Revista Rua


A contradição no consenso social do discurso ecológico da campanha publicitária da linha Ekos da Natura
The contradiction of the social consensus about the ecological discourse of "Natura Ekos Line" advertising campaign

Maria Eunice de Godoy Machado Teixeira

fazer, os direitos, a liberdade, como também os deveres e os limites. Lembrando Foucault, o Estado sai de cena e coloca o sujeito como autor e dono de seus atos, ironicamente, no centro de um processo ‘panótico’ de controle. Portanto, ser responsável pelas suas escolhas dá ao sujeito moderno um efeito de sentido de liberdade e autonomia. O sujeito se sente único, livre, mas responsável por seus atos. Essa ilusão do sujeito faz possível a governabilidade. O sujeito, na ilusão da liberdade infinita, age como determina o Estado e suas instituições. Então, na propaganda, as consumidoras da linha Ekos da Natura podem realmente se sentir determinantes no processo econômico atual que requer cidadãos que buscam colaborar na instalação de uma economia sustentável, uma economia que respeita as reservas naturais e os povos que vivem em torno delas.
Diferentemente das usuárias da Natura, os lavradores, ao final da propaganda, são significados, mais uma vez, como parte da natureza. O enunciado, a floresta está em você, apresenta o lavrador em uma união perfeita com a natureza, já que ela está dentro dele. Há um sentido quase que místico e religioso nessa relação. Em uma sintagmatização, o lavrador ocupa uma posição exatamente no extremo oposto da posição da consumidora. Ela, ainda que em uma ilusão, é livre e dona de seus atos. Ele, pelo contrário, deve se guiar por uma entidade interior, que, neste caso, se chama pelo nome de floresta, natureza, mas poderia ser significada por uma força especial interior, espiritual. Aqui, o lavrador é o portador de uma realidade que não é ele, mas que está nele e que o deve reger. Ele não é, então, responsável por seus atos, mas deve, simplesmente, ouvir e deixar-se guiar por ela. A relação lavrador e floresta é significada por um sentido metafísico, espiritual. Eles estão fora da sociedade capitalista, das relações econômicas atuais. Sua conexão se faz em outra dimensão, inacessível aos ditames desse mundo físico e monetário. Tanto é assim que o homem do campo é passivo nessa relação, pois quem determina como se deve trabalhar a natureza é ela mesma. A orientação para desfrutar das riquezas naturais está na própria natureza. Resta ao trabalhador, então, apenas ouvir a voz da floresta que está nele. O dono da terra, os grupos empresariais ou a economia política que dirigem o uso e o desfruto da natureza, aqui, são sentidos e sujeitos que deslizam no sentido espiritual/religioso que se dá à natureza.
O sentido místico que se dá à relação do trabalhador com a natureza, nesse trecho da propaganda, apagará, ainda uma vez mais, o histórico e o político dessa