Revista Rua


A contradição no consenso social do discurso ecológico da campanha publicitária da linha Ekos da Natura
The contradiction of the social consensus about the ecological discourse of "Natura Ekos Line" advertising campaign

Maria Eunice de Godoy Machado Teixeira

relação, os conflitos de poder, as lutas de classe entre trabalhador do campo e os donos dos meios de produção, em uma palavra: a contradição.
 
Considerações Finais
A campanha da Natura Ekos quis significar avanço nas relações entre trabalhador e consumidor, entre proletariado e burguesia. Os dois pólos da luta de classes teriam, ali, o sentido de interligação e reciprocidade, pois os dois estariam unidos por um interesse comum: o desenvolvimento sustentável, a implementação de um ‘capitalismo verde’.
Porém, a memória da divisão da sociedade em classes economicamente diferentes e opostas percorreu todo o texto publicitário. O discurso do consenso presente no discurso ecológico foi produzido sobre um sentido já-lá, sedimentado pela exterioridade, feito presente pela memória discursiva: a contradição das classes sociais, própria ao sistema econômico capitalista. O novo de um discurso fundamentado na cooperação, na interdependência entre as classes, traz, como em uma ausência necessária, mas funcionando, o antigo, o velho sentido: o das diferenças de classe.
A divisão social foi falada por outras palavras nesta peça publicitária. A ecologia levou ao consenso entre as classes, à cordialidade no dizer de seus sujeitos. Mas os enunciados foram entrecruzados por outros dizeres, que persistiram pelo funcionamento do interdiscurso: grandes grupos econômicos levantam bandeiras ecológicas sem questionar formas de produção, legitimam o consumismo verde, estimulando-o com ares de responsabilidade sócio-ambiental, sem questionar que a qualidade de vida dos consumidores cresce por meio do trabalho, muitas vezes, insalubre dos operários do campo e da cidade.
 
(...) a luta ecológica somente poderá avançar se conseguir consolidar, junto a um vasto segmento de oprimidos e marginalizados, um projeto social de novo tipo, crítico da apropriação privada da natureza e voltado para uma sociedade ecologicamente responsável e justa. (Waldman, 1998, p. 8)
 
 
Referências bibliográficas
GADET, F. e HAK, T. 1990. Por uma análise automática do discurso. Uma introdução à obra de Michel Pêcheux. Campinas: Editora da Unicamp.