relação, os conflitos de poder, as lutas de classe entre trabalhador do campo e os donos dos meios de produção, em uma palavra: a contradição.
Considerações Finais
A campanha da Natura Ekos quis significar avanço nas relações entre trabalhador e consumidor, entre proletariado e burguesia. Os dois pólos da luta de classes teriam, ali, o sentido de interligação e reciprocidade, pois os dois estariam unidos por um interesse comum: o desenvolvimento sustentável, a implementação de um ‘capitalismo verde’.
Porém, a memória da divisão da sociedade em classes economicamente diferentes e opostas percorreu todo o texto publicitário. O discurso do consenso presente no discurso ecológico foi produzido sobre um sentido já-lá, sedimentado pela exterioridade, feito presente pela memória discursiva: a contradição das classes sociais, própria ao sistema econômico capitalista. O novo de um discurso fundamentado na cooperação, na interdependência entre as classes, traz, como em uma ausência necessária, mas funcionando, o antigo, o velho sentido: o das diferenças de classe.
A divisão social foi falada por outras palavras nesta peça publicitária. A ecologia levou ao consenso entre as classes, à cordialidade no dizer de seus sujeitos. Mas os enunciados foram entrecruzados por outros dizeres, que persistiram pelo funcionamento do interdiscurso: grandes grupos econômicos levantam bandeiras ecológicas sem questionar formas de produção, legitimam o consumismo verde, estimulando-o com ares de responsabilidade sócio-ambiental, sem questionar que a qualidade de vida dos consumidores cresce por meio do trabalho, muitas vezes, insalubre dos operários do campo e da cidade.
(...) a luta ecológica somente poderá avançar se conseguir consolidar, junto a um vasto segmento de oprimidos e marginalizados, um projeto social de novo tipo, crítico da apropriação privada da natureza e voltado para uma sociedade ecologicamente responsável e justa. (Waldman, 1998, p. 8)
Referências bibliográficas
GADET, F. e HAK, T. 1990. Por uma análise automática do discurso. Uma introdução à obra de Michel Pêcheux. Campinas: Editora da Unicamp.