Revista Rua


Proposta de revisão epistemológica da teoria da Arquitetura de John Ruskin
A proposal of epistemological revision of John Ruskin's theory.

Claudio Silveira Amaral

 

Para Ruskin, a noção de primeira impressão diz respeito a categorias de forças metafísicas. Essa noção corresponde a uma espécie de captura do espírito da matéria ou de seu caráter. Esse espírito é apreendido pelo sentido da visão do espectador no exato momento  que ele vê o objeto pela primeira vez. Além disso, essa impressão é portadora de associações de assuntos diversos que brotam da memória do espectador assim que avista o objeto; uma espécie de intuição.
Essa maneira de tratar o processo da percepção e, portanto, de conceber a sua função, evidencia, em sua origem, a existência de uma sensação privilegiada, ocasionada pela primeira impressão, a qual captaria apenas e tão-somente a noção muito imprecisa de um todo. Sempre dúbia, a sensação esta envolta em mistérios. Ela nunca afirma, apenas sugere. Em suas idéias, Ruskin chamou-a de sublime, isto é, além de imprecisa, essa sensação seria grandiosa, estaria acima da compreensão humana, sua lógica não seria plenamente entendida. Para ele, sublime é a sensação que salta para fora da matéria ao ser confrontado visualmente pela primeira vez. Em outras palavras, sublime é a apreensão do espírito da matéria relacionada às lembranças da experiência de vida do espectador que por sua vez remete a lógica existente na natureza.
Definido por Ruskin como elemento interno à esfera da apreensão estética, como elemento respeitante ao espectador, o sublime nem por isso deixaria de comportar o caráter do objeto, isto é, a qualidade ética e moral do objeto.
Para Ruskin, a noção de sublime é irrelevante para a teoria da percepção clássica. Nesse sentido, ele se intitulou um anticlássico, contrário a toda teoria que apreendesse o objeto através de relações de proporção, como a noção de simetria em Vitrúvius.[16]


[16] Simetria em Vitrúvius:  “...as colunas nos templos areostilos devem ser executadas de tal modo que sua espessura equivalha à oitava parte da altura. Igualmente, no diastilo, a altura da coluna deve ser modulada em oito partes e meia, e sua espessura deverá ser de um desses módulos. No sistilo, divida-se a altura em nove partes e meia, e que uma delas seja dada como espessura às demais colunas, da mesma forma que, no picnostilo, a altura deverá ser dividida em dez partes e uma servirá como medida da espessura da coluna. As colunas do templo eustilo, do mesmo modo que as do sistilo, terão sua altura dividida em nove partes e meia, e uma delas será definida como a espessura do escapo do fuste. Assim,  a relação entre os intercolúnios será obtida pela subdivisão das colunas, com efeito, à medida que aumentam os espaços entre as colunas, na mesma proporção deve aumentar a espessura dos escapos dos fustes. De fato, se no arestilo a espessura da coluna fosse a nona ou a décima parte de sua altura, esta pareceria delgada e esbelta, e isto porque o ara esgota-se pela largura dos intercolúnios e aparentemente diminui a espessura dos fustes. Do contrário, nos templos picnostilos, se a oitava parte da altura da coluna for tomada como espessura, em virtude da profusão delas e da exigüidade dos intercolúnios, apresentarão um aspecto empolado e deselegante. Desse modo, é necessário buscar as proporções de cada um dos tipos da obra. E mais, as colunas cantoneiras devem ser executadas mais espessas que as outras em um cinqüenta avos de seu diâmetros, porque elas são circundadas pelo ar e dão aos que os vêem a impressão de engenho.”(VITRÚVIO, M.P. Vitrúvio da arquitetura. São Paulo: Hucitec, 1999, p. 97)