Revista Rua


Proposta de revisão epistemológica da teoria da Arquitetura de John Ruskin
A proposal of epistemological revision of John Ruskin's theory.

Claudio Silveira Amaral

 

quadro por meio de ganchos. Essa conexão seria harmoniosa caso houvesse a política da ajuda mútua. A harmonia ou equilíbrio é a mais importante noção ruskiniana decorrente da dinâmica natural e, por isso, Ruskin a transfere para a religião dizendo que a natureza é obra de um criador, um Deus.
Como se pode observar, a temática do divino e, por conseguinte, da religião, constitui um aspecto peculiar da teoria da forma de Ruskin. Seria mais um assunto que Ruskin tratou para mostrar a existência de uma lógica natural.
De volta à noção ruskiniana de natureza, é preciso dizer que a natureza se estrutura em virtude da existência de uma ordem natural, cuja expressão cria, entre outras coisas, a sua dimensão estética.
Essa ordem teria sido criada por esse ser metafísico superior que estabeleceu uma dinâmica natural para todos. Essa dinâmica seria o resultado de um tipo de relacionamento ao qual chamou de ética natural, criando uma harmoniaentre os seus elementos com base na política da ajuda - mútua.
A estética dessa ética é o resultado de um tipo de desenho que estrutura relações entre seus elementos constituintes, direcionando-os a estados de equilíbrio.
 
(...) that the whole tree is fed partly by the earth, partly by the air, strenghthened and sustained by the one, agitated and educated by the other, all of it which is best, in substance, life, and beauty being drawn more from the dew of heaven then the fatness of the earth.[18]  
 
Ruskin ilustrou uma lógica na qual os elementos dependem uns dos outros e os seus desenhos teriam as formas necessárias para que este tipo de relação se desse.
O valor estético dessa lógica está no resultado obtido pelo relacionamento dos elementos (equilíbrio = harmonia = razão). Assim, nenhum elemento isolado é belo ou não-belo. O belo aparece apenas em decorrência da composição natural.
Na concepção do escritor inglês, o equilíbrio é o resultado de uma relação de troca, uma troca justa: alguém tem algo que o outro não tem e precisa, esse outro tem algo que aquele não tem e precisa, portanto eles trocam e todos saem ganhando.
A relação não-bela é aquela que não atinge o estado de equilíbrio, ou seja, um dos elementos prejudica o outro. O belo, portanto, resulta de uma relação de cooperação, e o não-belo, de competição.


 
[18] RUSKIN, J. Modern Painters. 1860, V. 5, p. 50.