Revista Rua


Proposta de revisão epistemológica da teoria da Arquitetura de John Ruskin
A proposal of epistemological revision of John Ruskin's theory.

Claudio Silveira Amaral

 

Haslam[5] diz que Ruskin possui um pensamento visual, um pensamento espacial. A lógica visual é por eles considerada o oposto da lógica formal. Enquanto esta se prende a uma seqüência linear, preso a um tempo que cresce em argumentos (quer sair do ponto A e chegar no B), a primeira irá justapor assuntos; usará da simultaneidade ao invés da linearidade; tratará do tempo como devir, poderá se perder em divagações quando achar necessário, divertir-se-á com as cores, com aproximações e distâncias; com texturas; associará assuntos nunca antes associados; usará o recurso da metáfora para valorizar suas associações. Assim é o raciocínio de John Ruskin para esses autores, um tipo de pensamento ao qual chamaram de espacial.
A obra de Ruskin se preocupa com o ensino da visão, que segundo ele, visualiza uma concepção de lógica na natureza. Por isso a leitura será sempre o resultado da apreensão de uma lógica cuja razão é sentida durante o olhar captado por uma primeira impressão.
Helsinger atribuiu essa teoria não a Ruskin, mas a Wordsworth, cujas associações com cores, sons e memórias compunham os seus textos. Wordsworth classificou esse procedimento de sublime. Queria uma unidade entre coisas que, a princípio, não se misturam, porém constrói uma racionalidade, uma unidade, um equilíbrio.
Diferente do sublime de Burke, relacionado ao prazer que vem da dor, chamado por Helsinger de negativo, o de Wordsworth, assim como o de Ruskin, é derivado da noção de pitoresco. As partes se compõem para dar sentido a um todo. Esse todo é composto por objetos, efeitos, sensações, memórias, cores. Hunt acredita que a produção ruskiniana deva ser apreendida como se fosse um todo, do mesmo modo que o sublime de Wordsworth.
Ao ler/ver a obra ruskiniana dessa forma, passa-se a entender o seu método, resultando numa leitura na qual os temas serão menos importantes do que o método. Assim, esses assuntos, vítimas de severas críticas por não resultarem de estudos aprofundados, se tornam meros coadjuvantes na medida em que assumem o segundo plano[7]. As verdades ruskinianas se transformam em impressões pessoais de Ruskin, o que não compromete a qualidade do método.


[6] HASLAM, R. Looking, drawing and learning with John ruskin at the Working Men´s College. Oxford: Jornal of Art and Design. Vol. 7, n° 1, 1988, p.75.
[7]Bradley fala da fúria dos especialistas em relação a Ruskin emitir opiniões sobre o que, a princípio, não havia se aprofundado. (BRADLEY, J. Ruskin, the Critical Heritage. Londres: Routledge & Kevan Paul, ps. 14, 17, 113, 272. 1984.)