Revista Rua


Proposta de revisão epistemológica da teoria da Arquitetura de John Ruskin
A proposal of epistemological revision of John Ruskin's theory.

Claudio Silveira Amaral

 

That all forms of acknowdedge beauty are composed exclusively of curves, I believe, be at once allowed, but that which there will be need more especially to prove is, the subtlety and constancy of curvature in all natural forms whatsoever. [11]
 
É como se víssemos tudo o que existe no universo por meio de um microscópio e enxergássemos apenas linhas curvas.
Em os Pintores Modernos, fez uma espécie de inventário dos elementos naturais[12], chamando a atenção para o que qualificou de essência da alma, chamada de verdade. Assim, cada elemento natural seria depositário de uma verdade, isto é, de uma essência que o distinguirá dos demais elementos naturais, atribuindo-lhe um caráter.
Em outros capítulos Ruskin inventariou outros elementos da natureza, como, por exemplo, as montanhas, os vegetais, os minerais, os animais, os homens, o céu. No entanto, para além das verdades desses elementos isolados, existiria uma outra verdade mais importante, à qual deu o nome de composição natural. A composição natural é um tipo de relacionamento que existe entre os elementos naturais.
O animismo ruskiniano criou uma inusitada teoria da percepção que se baseia na apreensão de um espírito que surge no ato da visualização do objeto. Apreender sensorialmente um objeto seria sentir o seu espírito, ou sentir a sua moral. Assim, o estético será o resultado de um procedimento que é ao mesmo tempo sensorial (fruto da visão) e intelectual (fruto da apreensão de uma moral). No entanto, o interesse de Ruskin não é a moral individual do elemento, mas a resultante de um relacionamento harmonioso entre os elementos, isto é, a composição natural.  A composição natural é a razão de sua lógica natural, é o momento em que esta lógica atinge a sua unidade, o seu equilíbrio.
A noção de um todo é de fundamental importância para a teoria de Ruskin, pois, de acordo com a sua concepção de estética, o que interessa é a apreensão do resultado da relação entre as partes e não as partes em si. A estética ruskiniana dá mais valor ao todo. A estética de Ruskin é o resultado de uma ética, ou seja, de um tipo particular de relacionamento, o da composição natural.
Em contrapartida, Ruskin dizia que, qualquer que fosse o objeto, ele sempre transmite algo de si para quem o vê. Além disso, o que transmite poderá ser captado sensorialmente pelo espectador sem que o objeto o anuncie verbalmente.


[11]  RUSKIN, J., Modern Painters, V. 2, p. 44.
[12] RUSKIN, J., Modern Painters, V. 1, p. 207.