Revista Rua


Proposta de revisão epistemológica da teoria da Arquitetura de John Ruskin
A proposal of epistemological revision of John Ruskin's theory.

Claudio Silveira Amaral

 

A lógica que Ruskin viu na natureza, a composição natural, migrou para a forma pictórica. Da composição natural, participam todos os elementos da natureza, animais, objetos inanimados etc. Todavia, em Ruskin, os objetos são matérias que comportam um desenho. Porém, não se reduzem a isso, pois seriam dotados também de uma essência espiritual. A partir da noção de matéria em co-relação com a noção de espírito, Ruskin elaborou a noção de forma, em que desenho e moral, isto é, o desenho de uma moral, são os seus elementos constituintes.
Para o crítico de arte inglês, ver é sentir uma moral, o que equivale a dizer, sentir uma essência, uma verdade. Ao relacionar verdade com estética, Ruskin dirá que nem toda verdade é bela, pois como visto, o belo é fruto de uma relação na qual nem sempre o resultado é harmonioso. O belo aparece apenas quando a verdade de um elemento completa aquilo que o outro não tem e eles entram em estado de equilíbrio, ou seja, quando ocorre a composição natural.
Para passar da argumentação ética à estética, movimento que Ruskin realiza o tempo todo, transformou a expressão relacionamento harmônico na noção ruskiniana de simetria.
Simetriaé o resultado de uma relação em que a abundância de um compensa a falta do outro. A metáfora expressa uma balança que busca o equilíbrio entre elementos de pesos diferentes. Quando a balança se equilibra surge a simetria. Assim, o belo será sempre resultado de uma relação simétrica.
Não existem regras, em Ruskin, para esse acontecimento, pois o equilíbrio ocorre durante uma dinâmica. O movimento estabelece um tipo de equilíbrio que acontece apenas uma vez, nunca mais se repetindo. Ruskin condenou qualquer tipo de repetição, chamando-a de cegueira ou anestesia ou ainda, mecanização da percepção.
O equilíbrio dinâmico é um estado de equilíbrio resultado de peças compostas por desenhos sempre inéditos. Para Ruskin, o caráter inédito das manifestações de equilíbrio é a própria natureza da vida, ou seja, a sua criatividade constante. Dessa forma, o seu animismo (o qual se refere à idéia de que tudo tem vida), deriva de um movimento perpétuo de geração e corrupção. Em última instância, resulta da dinâmica de um eterno nascimento.[19]


[19] “It will perhaps appear to you, after a little farther thought, that to create anything in reality is to put life into it. A poet, or creator, is therefore a person who puts things together, not as a watchmaker steel, or a shoemaker leather, but who puts life into them. His work is essentially this: it is the gathering and arranging of material by imagination, so as to have in it at last the harmony or helpfulness of life, and the passion or emotion of life. Mere fitting and adjustment of material is nothing, that is watchmaking. But helpful and passionate harmony, essentially choral harmony, so called from the Greek work “rejoicing”, is the harmony of Apollo and Muses, the word Muse and Mother being derived from the same root, meaning “passionate seeking”, or love, of which the issue is passionate finding, or sacred Invention. (RUSKIN, J., Modern Painters, V. 5, p. 167).