Revista Rua


Proposta de revisão epistemológica da teoria da Arquitetura de John Ruskin
A proposal of epistemological revision of John Ruskin's theory.

Claudio Silveira Amaral

 

Introdução
 
Diferentemente das rotinas incorrigíveis da experiência comum, o conhecimento cientifico avança através de sucessivas retificações das teorias anteriores. Uma verdade só alcança seu sentido pleno ao término de uma polêmica. Não existe verdade primeira. Existem apenas primeiros erros. Para avançar é preciso ter coragem de errar. Psicologicamente, não há verdade sem erro retificado.[1]
 
Este pensamento pode servir também para a História da Arquitetura; uma história que questione o ponto de vista único e considere possíveis retificações.  É isso o que se pretende aqui construir, um outro ponto de vista para a produção teórica do critico de arte inglês John Ruskin.
A hipótese desta pesquisa é que o principal assunto tratado por John Ruskin é uma concepção de lógica[2] e de razão[3] que estrutura assuntos como, arquitetura, pintura, política econômica, religião e vários outros. Diferente da opinião de alguns historiadores da arquitetura moderna[4], que analisaram a obra ruskiniana sobre arquitetura de forma isolada desvinculada dos demais assuntos, aqui ela será tratada interna a uma lógica e razão que estrutura todos os assuntos vistos por John Ruskin. Pretende-se demonstrar que o objetivo de Ruskin não era constituir uma teoria da natureza, da pintura, da política econômica, ou mesmo da arquitetura, mas utilizar a mesma lógica de composição em todos estes temas.
John Ruskin foi um crítico de arte inglês, que viveu no século XIX na Inglaterra vitoriana. Considerado o defensor do estilo gótico revival, mais especificamente o neogótico veneziano; se viu obrigado, no prefácio da edição de 1849 de As Sete Lâmpadas da Arquitetura e depois no de 1855, a desmentir tal preferência[5], pois, as suas idéias pretendiam divulgar não um novo estilo, mas uma nova forma de raciocínio que se dizia contrária a qualquer tipo de estilo.


[1] BACHELARD,G em REALE, G., ANTISERI, D., Historia da Filosofia: do Romantismo até nossos dias. São Paulo Edições Paulinas, 1991, vol. 3, p. 1012.
[2] Lógica é a construção do pensamento por meios, caminhos que buscam uma Unidade, uma Razão.
[3] Razão é o objetivo da lógica, chegar em uma Unidade.
[4] FRAMPTON, K.; PEVSNER, N.; VAN LOON, W. H.; GOMBRICH, E. H. J.; CURTIS, W.; ARGAN, G. C. E outros.
[5] “In 1849 Ruskin argued, in the Seven Lamps for the rejection of styles and the pursuit of styles:”We want no new style in architecture. (...) But we want some styles”. Once a singlestyle had become universally accepted, its adaptation would eventually produce a new style suitable to a new world. Unfortunately, however, Ruskin recommended not one style but a choice of four: Prisan romanesque, as in the Baptistry and Cathedral at Pisa, Early Gothic of the western Italian republics, as at Sta. Croce, Florence; Venetian Gothic – Sta. Maria dellÓrto, for example, and early English decorated, as the north transept at Lincoln. (Cook, in Hunt. The Ruskin Polygon, Manchester University Press, p. 69, 1982.)