Revista Rua


Espaços Linguísticos e seus desafios: convergências e divergências
Linguistic spaces and its challenges: convergences and divergences

Eni P. Orlandi

 

Cerquiglini (2012), analisar este estado de fato permite compreender, construir e propor ações múltiplas integradas.
 
Uma questão de método e de gestos administrativos
 
 Na realidade, é preciso explicitar a posição teórica da qual observo estes fatos, estes espaços. Trata-se da posição da teoria do discurso. E estes fatos são pensados a partir dos discursos sobre a(s) língua(s), sejam discursos do senso comum, sejam discursos sobre as línguas, ou discursos metalinguísticos. Há sempre instrumentos de constituição dessas línguas que configuram um seu imaginário, um imaginário desses espaços. Por exemplo, se tomamos a lusofonia, há a colonização que é um acontecimento linguístico e se cria um imaginário que separa o português de Portugal e o do Brasil. No século XIX, com a independência do Brasil, houve a constituição do processo de gramatização – gramáticos brasileiros produziram nossos instrumentos linguísticos (gramáticas e dicionários), escolas, cursos de língua etc. que institucionalizaram nossa relação com a língua no Brasil – para que o brasileiro soubesse sua língua e, ao mesmo tempo, soubesse que a sabe. Criou-se desse modo um espaço politicamente significado do ponto de vista da língua entre os Brasileiros e os Portugueses sobre a língua que cada um desses países/sociedades fala. Com reflexos, no Brasil, para a relação entre brasileiros e brasileiros face à língua.
Desse ponto de vista, é preciso mostrar que a posição da sociolinguística é a de mostrar a multiplicidade das línguas quando se fala do multilinguismo. Do ponto de vista da teoria do discurso o importante é falar da multiplicidade de sentidos que aí está inscrita quando falamos de multilinguismo. Fazemos, pois, um recuo, para observar dos bastidores onde estas injunções se jogam entre as línguas e suas relações. É aí que importa falar de geopolítica das línguas, dos conjuntos de línguas, dos campos de línguas, dos espaços linguísticos, contanto que não se pensem espaços fechados. Vemos assim que as teorias que falam de mudanças e de contato entre línguas, produzidas no século XIX não podem explicar a situação desses espaços hoje: a noção de mudança é outra, a noção de relação entre as línguas é outra. A noção de contato é outra.
Podemos realçar estas diferenças colocando em relação as proposições feitas no espaço/campo da lusofonia e no da francofonia. É então que aparece a diferença entre, por exemplo, a noção de pacto e a de acordo, face á mundialização e a língua única.