Revista Rua


Espaços Linguísticos e seus desafios: convergências e divergências
Linguistic spaces and its challenges: convergences and divergences

Eni P. Orlandi

 

sustentado no fato de que a língua faz sentido em relação a sujeitos que não estão mais submetidos a um poder que impõe uma língua sobre sujeitos de uma outra sociedade, de um outro Estado, de uma outra Nação. A memória que administra a relação destes sujeitos a sua língua não é mais uma memória exterior a seu campo de significação enquanto cidadão de um certo país, um sujeito com sua forma histórica, politicamente significado no mundo. Temos assim uma definição de Lusofonia voltada não para o passado, para uma língua imposta a outras. E este espaço é definido antes como um conjunto de línguas que, no presente, é um campo dinâmico e diversificado, multilingue, na sua coexistência com uma língua européia que faz parte desta história. Uma definição que reorganiza as relações das línguas e funciona de maneira distinta hoje. Nossas diferenças e semelhanças podem ser tratadas de maneira politicamente produtiva face á mundialização. Com efeito, podemos igualmente redefinir a própria mundialização insistindo sobre a heterogeneidade, o movimento, a não–idealização de práticas linguísticas ou outras que devem ser pensadas menos porque são as mesmas por toda parte, e mais em sua historicidade, e porque são significadas politicamente. Isto nos leva a pensar o plural, e o dinâmico (o movimento), tanto quanto as semelhanças  e as diferenças. Suas divergências e convergências.
Penso que o denominador comum que permite tratar de maneira dinâmica e atual a questão desses conjuntos, desses espaços linguísticos, que chamamos lusofonia, hispanofonia e francofonia é o traço comum com as línguas românicas, latinas. Não esqueçamos os outros espaços aqui nomeados com sua historicidade, suas particularidades políticas e suas especificidades em relação à mundialização: o da anglofonia, africanofonia, arabofonia que colocam as mesmas interrogações e contribuições sociais e políticas igualmente complexas e decisivas para o  mundo atual. Assim, não tenhamos nenhuma ilusão quanto à unicidade de nenhum destes espaços/conjuntos nem quanto à possibilidade de encontrar na relação entre eles alguma simples soma. Trata-se de uma relação difícil e contraditória em seus aspectos tanto culturais quanto sociais e históricos.[5]


[5] A diferença entre "pacto", palavra utilizada pela francofonia, e "acordo", termo empregado pelos que, em uma reunião em Portugal, procuravam um ponto comum de prática linguística, podendo ser aceita tanto pelos Protugueses quanto pelos Brasileiros e Africanos, é uma das coisas que me incentivaram a me voltar para esta questão das diferentes formas históricas, como veremos abaixo.