Revista Rua


Espaços Linguísticos e seus desafios: convergências e divergências
Linguistic spaces and its challenges: convergences and divergences

Eni P. Orlandi

 

inscreve na história para signficar. De sua parte, o indivíduo, afetado pela língua e interpelado pela ideologia, se constitui sujeito. Sujeito dividido, já em sua constituição e sujeitos divididos em sua relação com a sociedade e com a história. Portanto não podemos pensar as línguas sem pensar a língua, o sujeito e o sentido, em sua constituição, em que entram o social, o histórico, o ideológico e o político. Pensando as línguas, agora em seu plural, podemos dizer que elas são um fato social, histórico, elas são praticadas, funcionam em condições determinadas, têm uma materialidade, marcam a história. As práticas simbólicas que são as línguas são administradas por relações de poder que regem seu funcionamento e é impossível pensá-las fora destas condições político-históricas. Um ponto importante não poderia escapar-nos : em diferentes momentos da história, as relações de poder se organizam e declinam diferentemente suas relações com as línguas e entre elas, nas e entre as sociedades e as culturas diferentes. Como consequência, podemos dizer que a produção cultural, científica, social e a própria relação entre os sujeitos no mundo dependem de como se realizam as chamadas « políticas de línguas ».
 
Multilinguismo e Globalização

Nas condições atuais, é, pois, preciso pensar os sentidos que se estão produzindo a respeito desta questão. Não podemos deixar de observar que há, contemporaneamente, um grande investimento no discurso do multilinguismo que se acompanha, fortemente, do discurso da mundialização/globalização. Ao contextualizá-lo em relação à globalização já estamos significando de uma maneira específica as línguas em suas relações. Essa formação ideológica da globalização, a que se agrega o multilinguismo, se constitui de uma contradição entre seu discurso formal universalizante e sua prática concreta de segregação. É uma formação ideológica que, frequentemente, produz a redução das culturas a museus, museifica as relações com línguas locais, se prende a um multiculturalismo empobrecedor, que faz idealmente a apologia da diferença e da multiplicidade, mas impõe, na prática, um monolinguismo fechado que silencia a pluralidade linguística necessária à dinâmica das sociedades e dos sujeitos no mundo. Segundo L. Carroué (2007), como tenho retomado repetidas vezes, a globalização é um processo geo-histórico de extensão progressiva do capitalismo em escala mundial e que é ao mesmo tempo uma ideologia (neoliberal), uma moeda (o dólar), um instrumento (o capitalismo), um sistema político (a democracia), uma língua (o inglês). Mas como