Revista Rua


Espaços Linguísticos e seus desafios: convergências e divergências
Linguistic spaces and its challenges: convergences and divergences

Eni P. Orlandi

 

espaços não são espaços formais, mas espaços materiais com sujeitos que são significados e que significam (espaços de interpretação). São espaços heterogêneos: espaços histórico-linguísticos atravessados por contradições. Nesse caso, é preciso especificar que eles são afetados pelo fato de que a maneira como cada espaço significa em sua forma histórica difere uns dos outros.
A forma histórica desses espaços, ditos linguísticos, ou linguístico-discursivos, implica a maneira como o Estado geriu sua constituição, suas articulações político-simbólicas. Assim, desde que levamos em conta estas relações inscritas nesta história das línguas e desses espaços, intervêm necessariamente as relações entre convergências e divergências porque estes espaços e suas formas históricas, como dissemos, não coincidem. Cada um tem suas especificidades, suas identidades, suas políticas de língua. Daí a proposta do desafio de se encontrarem possíveis pontos de contato, convergências. Por outro lado, é preciso considerar que o modo como estes espaços se constituíram difere. Uns, pelos processos de colonização (que não são homogêneos), outros, pela colonização, mas também por diferentes relações que implicam, entre outros, a própria formação dos Estados com suas línguas, outros por trocas econômicas, culturais etc. Na contemporaneidade, entram em questão a mundialização, novos componentes políticos, econômicos, sociais, culturais. Tudo a ser levado em conta. E seguramente, em se tratando das gerações mais jovens na sua relação com as línguas, entram em conta diferentes determinantes tecnológicas, face à força material das novas tecnologias da linguagem, das mídias e dos grandes aparelhos difusores de línguas e que, eles também, têm uma forma, suas múltiplas práticas, com suas materialidades linguísticas junto a outras formas materiais significantes.
             
Lusofonia: um espaço fechado ou um campo de relações multiformes e abertas?
 
Como poderíamos falar da relação entre estes conjuntos de línguas que, em nossos dias, formam o que chamamos lusofonia, hispanofonia, francofonia, sem fazer referência ao fato de que, linguistico-discursivamente, da mesma maneira que houve um processo de colonização, há também o de descolonização linguística, que afeta a história da relação às línguas em seus contatos e em sua formação. E podemos constatar isso atualmente, no que tange a Lusofonia, por exemplo, no que eu chamaria sua redefinição. Se pensamos o processo de descolonização, podemos defini-lo como o estabelecimento deste imaginário pelo qual se produz também um acontecimento linguístico, este,