Revista Rua


Espaços Linguísticos e seus desafios: convergências e divergências
Linguistic spaces and its challenges: convergences and divergences

Eni P. Orlandi

 

No espaço linguístico lusófono, a palavra de passe é “acordo”; no espaço francófono a palavra mais usada é “pacto”. Explorar os sentidos destas duas palavras (formações discursivas?) – acordo e pacto – pode nos ensinar muito sobre o modo como estes dois espaços se apresentam frente a questões das políticas de línguas e face à mundialização negociada e sua língua única. Um acordo negociado/um pacto que engaja suas diferenças em um compromisso.
No espaço lusófono há, para fazer face às questões das relações das línguas na mundialização, uma posição favorável ao multilinguismo. A palavra instituída para isto é “acordo”. Com um acordo se estabelecem condições mútuas para uma finalidade negociada. É jurídico/negociada. Não engaja a vontade, mas os fins objetivados. A consonância, a conformidade (acordo de cavaleiros). Estabelecem-se políticas de negociação visando resultados. No espaço francófono, também reivindicando o multilinguismo, o ensino bilíngue etc. fala-se de preferência em “pacto”. No pacto as pessoas se unem em função de um princípio com estratégias para realizá-los. É preciso se ajustar, estabelecer contratos (jurídicos), finalidades edificantes. O pacto engaja a vontade. A moral. Estabelecem-se políticas de engajamento. Vemos, pois, que não podemos reduzir o próprio sentido de cada um destes espaços uns aos outros. Cada um tem suas finalidades, sua história, sua forma de praticar a política de língua, praticando ao mesmo tempo sua ideologia multilíngue.
 
A um passo da conclusão
 
Se, com o Estado/Nação as noções que mobilizamos é de língua oficial, língua nacional e cidadania, hoje, na nova forma social, falamos em “usuários” (E. Orlandi, 2011), em múltiplas línguas, em falares, em dialetos, em comunidades etc. Se antes devíamos abandonar o falar local, a língua materna, pela noção de unidade, a nacional, hoje nos fragmentamos em falares locais, dificilmente visíveis, pouco conhecidos (não gramatizados), enquanto do outro lado, paralelamente, flui livremente, sustentado por uma enorme quantidade de instrumentos linguísticos, e com toda a visibilidade e apoio tecnológico a língua franca “universal” da comunicação e do conhecimento: a língua única (nas condições atuais, o inglês). Língua dominante não só no espaço digital, o espaço da multidão de usuários. O que se apresenta como universal é justamente o que resulta do poder dominante: o monolinguismo. É, pois, uma questão política, uma questão de domesticação da efervescência das línguas nas suas amplas possibilidades de