Revista Rua


Espaços Linguísticos e seus desafios: convergências e divergências
Linguistic spaces and its challenges: convergences and divergences

Eni P. Orlandi

 

A noção de espaço linguístico
 
O fato mesmo de organizarmos nossa discussão do multilinguismo, lançando mão da noção de espaço, é um gesto que ultrapassa largamente as questões linguísticas propriamente ditas. O uso da palavra espaço para esta organização nos remete à globalização: pensada esta em sua forma política que é a de, justamente, apagar, pelo menos imaginariamente, os limites histórico-políticos e sócio-culturais da relação Estados/Nações.
Por isso, penso, esta noção de espaço, ou de conjunto, é uma tentativa de organização e de propostas que vão além das questões linguísticas propriamente ditas para se colocarem como questões organizadoras das relações de forças políticas, ideológicas, científicas e sociais do mundo contemporâneo pensado face à mundialização. Assim, ao pensar esta organização, e para não cair no organicismo, considero que devemos nos propor a refletir sobre estas línguas de modo pluricêntrico, não deixando de relacioná-las a outras línguas mundiais[4]. Abrir estes espaços para questões mais amplas: a guerra das identidades, a guerra das culturas, a disputa pela distribuição da produção científica, a guerra propriamente dita. Conflitos. Mas também as convergências, as alianças, os acordos, os pactos.
Estes espaços são atravessados por contradições, não são homogêneos. É assim que as relações entre convergência e divergências intervêm necessariamente. Há questões políticas diferentes nesses espaços e entre eles ; e cada um se singulariza em formas históricas diferentes: colonização, imigração, relações econômicas etc. Cada um, a sua maneira, coloca tantas interrogações e contribuíram com atribuições sociais e poilítcas igualmente complexas e decisivas no mundo atual. Com resultados importantes para a geopolítica linguística que estabelece relações, forças e valores para eles.
Precisamos pensar estes espaços como espaços instáveis, abertos, heterogêneos. Além disso, eles têm formas históricas diferentes e se constituem em relações políticas diversas. Tanto entre si quanto no interior de cada espaço. Vejamos.
Quando falamos de espaços linguísticos – eu acrescentaria espaços linguístico-discursivos – estamos em face de questões que tocam o fato de que, de um lado, os


[4] Fala-se da Lusofonia como um desses espaços de presença mundial, internacional. Mas o seu modo de presença não é o mesmo que o da Francofonia, ou da Hispanofonia e muito menos o da Anglofonia. O que estamos apagando quando falamos desses espaços como se  se representassem do mesmo modo na conjuntura mundial?