Revista Rua


Espaços Linguísticos e seus desafios: convergências e divergências
Linguistic spaces and its challenges: convergences and divergences

Eni P. Orlandi

 

significar. É das múltiplas possibilidades de sentidos que o monolinguismo oferece proteção.
O discurso do multiculturalismo/multilinguismo quando sustentado em bases do sociologismo, ao se mostrar como forma de defesa das minorias, acaba por sustentar, na verdade, o domínio do monolinguismo. A partir desse jogo, a contradição com que nos defrontamos não é mais local/nacional, mas histórico/universal. Daí minha proposta ser a de praticar o que chamo de universalismo histórico, este que reconhece no outro homem o que somos, admitindo as diferenças, sendo diferentes. E não uma massa uniforme sem determinações concretas, históricas e simbólicas. Tomar estas determinações em conta é lidar com a instabilidade, a diferença, a multiplicidade. E praticarmos políticas de língua baseadas em um princípio geral de multilinguismo, no plano das relações cotidianas, no plano das políticas regionais, no plano das relações globais, no plano das relações próprias ao mundo das ciências.
Nesse passo permito-me voltar a referir a uma distinção que tenho proposto – e que faz parte do que chamo a prática do universalismo histórico face ao multilinguismo – pensando a mundialização e suas práticas. Essas são práticas, na maioria das vezes, que na verdade não estabelecem uma relação com a língua do ponto de vista sócio-histórico, ideológico, em sua articulação entre o simbólico e o político, em que afloram a riqueza cultural, científica, artística dos sujeitos sociais. São menos do que práticas, são apenas “usos” momentâneos em que nem se inscreve a identidade dos sujeitos, nem se estabelecem filiações de memória, com consistência. Daí eu distinguir entre sujeitos falantes de uma língua, em que há sujeitos envolvidos, e usuários  de uma língua em que apenas resultados imediatos entram em questão. Na internet, por exemplo, há uma multidão de usuários de uma língua única, mas certamente poucos são os seus sujeitos falantes.  
Daí penso que a estratégia face à promoção do multilinguismo, na perspectiva que chamo de universalismo histórico, é a de unirmos diferentes línguas em seus campos de relações e praticá-las de forma a estabelecermos relações entre seus sujeitos falantes objetivando assim deslegitimar o monolinguismo com seus usuários. Para isso, nós que temos o português em nossa história comum devemos praticá-lo de forma politicamente significada, ou seja, como uma língua plural que nos contemple a todos em nossas semelhanças e em nossas diferenças: no Brasil, em Portugal, na África, na Ásia, sem esquecer o complexo desenho das múltiplas línguas faladas, em sua