Revista Rua


Espaços Linguísticos e seus desafios: convergências e divergências
Linguistic spaces and its challenges: convergences and divergences

Eni P. Orlandi

 

Línguas polissêmicas, não porque suas palavras são capazes de polissemia, mas elas mesmas são abertura no simbólico, deslizam, se movimentam como línguas.
Mas a mudança dessa situação não é uma questão de “atitude”, de “boa vontade”, é uma questão teórico-política, que demanda deslocamentos na ideologia e na história.
Por isso, para mim, quando se fala em desafios, o primeiro que se coloca é o das redefinições, dos sentidos mesmo em suas práticas simbólico-políticas. O primeiro desafio é a própria teoria, como a concebo discursivamente, como práxis.
O que pode mudar isso, como diz Cerquiglini, é “a capacidade de entrar em contacto com diferentes línguas que permite aos atores locais se impor no nível internacional” (2012). E não o monolinguismo, eu acrescentaria, que destitui os sujeitos de suas subjetividades pluridimensionadas e intercambiáveis. Praticar o plural, as transformações e as opções reais, que abrem para a dinâmica. Inclui opções. Pensar a história, pensar o presente e o modo de projetar o futuro não como previsão do que pode vir a acontecer, mas como prática que constitui condições de desenvolvimento da vida social na história. Entre estas práticas está a formulação de políticas sobre as línguas.
No que se refere ás línguas, pois, pensar a mundialização não é, como já observamos em outra ocasião, pensar a standardização em escala mundial, mas, ao contrário, a possibilidade de apreender a diversidade, a multiplicidade de sentidos que aí estão inscritos. Por isso não poderíamos deixar de lado sua dimensão histórica e cultural, sua relação ao social e ao político, quando pensamos as línguas na conjuntura mundial.
Daí que não se pode ignorar que, se antes se falava em política linguística, hoje, com estas relações complexas entre Estados e a ideologia da mundialização, considero mais próprio se falar em Geopolítica das Línguas. É nessa perspectiva que penso o tema dos grandes espaços linguísticos e penso aqui no que me cabe pela história e política da colonização; o espaço da lusofonia. Mas também o da francofonia, trazida antes de tudo pela convivência familiar, pela escola dos anos 50 do século XX, que dava um lugar importante ao francês, e pela minha vida intelectual, minha reflexão sobre a língua, sobre o discurso. Sem deixar de fazer referência ao espaço da hispanofonia. Isso porque me situo nos espaços que tocam de perto a historicidade das línguas românicas em suas determinações linguístico-políticas, e meu país, o Brasil, faz fronteira, na América Latina, com os países do espaço hispanofono.