Revista Rua


Espaços Linguísticos e seus desafios: convergências e divergências
Linguistic spaces and its challenges: convergences and divergences

Eni P. Orlandi

 

Como já disse, a forma histórica da francofonia é diferente daquela da lusofonia ou da hispanofonia. Não nos estenderemos sobre suas diferentes formas históricas. O importante, aqui, é falar de suas relações entre si e do confronto com a situação atual que tende à impor um sentido de mundialização homogêneo administrado por uma só língua : o inglês. Caso em que perderíamos toda a riqueza, os numerosos benefícios e as contribuições culturais, artísticas, científicas, sociais, históricas e políticas de um mundo que seria assim reduzido ao silêncio pela prática de uma língua única. Língua que, do modo como se apresenta, não fala com sujeitos mas com usuários, que só escorregam pela superfície da informação tratada como mercadoria. A realidade de todo sujeito locutor é multilingue. Todo país é multilingue. Como poderia existir um mundo unilingue senão como a conversão de uma ficção por uma política de força ? Como uma ficção ? Como construção imaginária – sustentada pela ideologia e discursos dominantes – esvaziada da história  e do jogo simbólico que constituem a realidade profunda de todo sujeito locutor. É este imaginário que deve ser atingido por práticas de linguagem que atravessam este ritual ideológico que se diz pelo discurso da mundialização.
Na realidade, na busca de convergências, é contra este sentido homogeneizante e monolíngue da mundialização que é necessário pensar a prática concreta do multilinguismo, sustentada pela promoção de articulações efetivas, programáticas entre a francofonia, a hispanofonia e a lusofonia como experiências históricas vastas e multiformes, com seus sentidos postos na contramão da colonização.
A francofonia, tomou, na atualidade, uma via muito importante com trabalhos que colocam ás claras as funções do capital multilingue na produção econômica. Ao mesmo tempo, ela se engaja em mostrar que a valorização da língua francesa passa  pela valorização das línguas parceiras na produção e na difusão do conhecimento. O que pede uma política de relações abertas sobre a produção econômica e intelectual, uma vez que nossas sociedades são sociedades do conhecimento. Por outro lado, há também a posição francófono que se coloca como um bem comum da humanidade. Neste caso, fala-se da cultura da paz, da diversidade cultural e da pluralidade linguística e do multilinguismo como essencial ao diálogo das culturas; forte presença pois do humanismo. E há ainda os que pensam a língua francesa como constituída por uma soma de experiências compartilhadas por indivíduos e institutições e, como diz