Revista Rua


O discurso da normatização da terra
The discourse of the land normatization

Ana Luiza Artiaga R. da Motta

sobre o poder que emerge pela materialidade simbólica e que se torna espaço de resistência, de confrontos próprios da língua (Lagazzi, 1988). Esse apontamento nos permite alargar as discussões e perguntar como a língua constitui a sua representatividade política no processo de formulação do texto da Ata? De fato, uma resposta possível a tal questionamento, certamente, tem a ver com um trabalho analítico sobre o tecido da língua em funcionamento. Compreendemos que, pelo funcionamento da linguagem, a língua é o âmago, o lugar de conflito, de tensão em que se ancoram as dessimetrias e as dissimilaridades por ser o lugar do equívoco, da incompletude. O discurso por sua vez é o lugar em que temos acesso à materialidade da língua, “habitat” do poder. Como pontua Barthes (1978, p.10) “o poder está emboscado em todo e qualquer discurso, mesmo quando este parte de um lugar fora do poder.”
Em Barthes (1978, p.12), podemosobservar que a linguagem é vista como o objeto em que o poder se inscreve. Assim, a língua é tomada como um objeto, o que torna diferente a posição de Barthes (op.cit.) em relação à Análise de Discurso que tem na língua o pressuposto, as condições de base para o desenvolvimento do processo discursivo, o que nos dá a materialidade para a análise.
Há, consecutivamente, o texto, a materialidade significante que se apresenta de tal forma, como um arranjo de linguagem articulado, não transparente,dentro de um sistema de relações discursivas. O discurso estruturado pela língua tem um funcionamento que se significa por distintas condições de produção. No caso do texto da Ata, a materialidade é compreendida como unidade significante de sentido, de autoridade, de asserção em relação aos efeitos que ela produz, enquanto lugar simbólico de instituição da terra. Conseqüentemente, pelo gesto da formulação, a ordem da língua está sujeita à repetição. Todavia, não se trata de uma maneira mecanicista de compreender esses efeitos quando observados pelo lugar discursivo, já que há uma injunção do sujeito à interpretação[17]. Pelas análises, compreendemos que a língua é passível de jogo e que esse jogo constitui, na textura do discurso, a complexidade de se observar, pelo funcionamento, o trabalho da ideologia.


[17] Orlandi (1996).