Revista Rua


O discurso da normatização da terra
The discourse of the land normatization

Ana Luiza Artiaga R. da Motta

podemos observar como o Estado capitalista produz pelo funcionamento das instituições as formas de individualização do sujeito.
 
As formas de individualização do sujeito pelo Estado, estabelecidas pelas instituições e pelos discursos resultam em um indivíduo ao mesmo tempo responsável e dono de sua vontade. É o sujeito individualizado ou indivíduo 2 de natureza sócio-histórica ideológica, indivíduo já afetado pela língua e pela ideologia que se significa pela inscrição nas diferentes formações discursivas, de que resultam distintas posições sujeitos, relativamente às formações sociais. Assim, a noção de sujeito individualizado não é psicológica mas política, ou seja, a relação indivíduo-sociedade é uma relação política (ORLANDI, 2008).[13]
 
Ao enfatizar o processo de constituição do sujeito Orlandi (op.cit.), diz que essa “complexidade da constituição do sujeito é “esquecida” no imaginário do mundo capitalista”. Assim, neste trabalho em que pensamos o ambiente, a terra, no discurso das políticas públicas buscamos compreender como o Estado constitui o imaginário de sujeito, pelo discurso, que normatiza sentidos para a cidade.
Pêcheux (1995), diz que diferentes sujeitos terão necessariamente discursos também diferentes. Nesse processo, a língua funciona, então, enquanto base comum para diferentes processos discursivos, demonstrando que não há uma oposição entre a base lingüística e o processo discursivo. Expliquemo-nos. Como se sabe, todo sistema lingüístico é formado por um conjunto de estruturas denominadas fonológicas, morfológicas e sintáticas e que é pela estrutura, dotada de uma autonomia relativa que o submete a leis internas, as quais constituem, precisamente, o objeto da Lingüística (Idem, p.91). E é sobre a base dessas leis internas que se desenvolvem os processos discursivos e não inversamente, ou seja, de um pensamento puro ou acidental que simplesmente se valesse desses sistemas lingüísticos desprovidos de significação, de um funcionamento.
Seguramente, “para o analista de discurso, então, a língua não é o objeto, mas o pressuposto para analisar a materialidade do discurso” (FERREIRA, 1999, p.63). E se, na Análise de Discurso, é pelo discurso que se tem acesso à língua, é nela que subjaz, pelo funcionamento do discurso, o poder e que, é desdobrado, desnudo pelas minúcias de uma análise.


[13] Orlandi (2008), Historicidade, indivíduo e sociedade contemporânea: que sentido faz a violência? Texto no prelo, apresentado no Encontro de Análise de Discurso na Universidade de Paria III, novembro de 2008.