Revista Rua


Mídia e Espaço Público

Guilherme Carrozza

 

Muitos comentários se produziram sobre o projeto Cidade Limpa e em muitos deles o que se percebe é a ligação direta que se faz entre publicidade e poluição visual. Exemplo disso é um artigo publicado por Adriana Maurano, Procuradora do Município de São Paulo, no qual sai em defesa da lei. A autora apresenta em seu texto argumentos que visam justificar a citada lei, no que diz respeito à necessidade de se tirar das ruas os anúncios publicitários. Mas o interessante nisso é pensar de que lugar a autora escreve. E isso pode ser percebido em um trecho:
 
“A expressão visual ganhou maior destaque com a invenção da televisão e do computador, adquirindo um poderoso significado nos processos de comunicação. Ao mesmo tempo, um infindável número de placas, setas, outdoors, faixas, marcas de produtos e mídia eletrônica passou a ser espalhado pela Cidade: os cidadãos são bombardeados com uma profusão de imagens, cores e informações, que, assimiladas ao cotidiano, nem sempre são percebidas como algo desagradável.” (grifo nosso)
 
            Há duas direções de sentido que nos chamam atenção nessa fala de Maurano.
A primeira, que nos parece trabalhar mais na evidência, aponta para um lugar do qual a procuradora fala e que pretende relativizar a presença da mídia na rua, abrindo espaço para colocá-la como algo que, “às vezes, agrada”. Mas isso porque, como afirma, as peças publicitárias são “assimiladas ao cotidiano”.
            Por outro lado, dizer que o infindável número de placas, setas, outdoors etc. nem sempre são percebidos como algo desagradável, significa dizer que quase sempre o são. E ainda reafirma essa posição quando escreve:
 
“Não se pode negar que a publicidade, ao integrar o espaço urbano na forma de mídia exterior (cartazes, placas e outdoors), é assimilada, mesmo contra a vontade, pelos transeuntes. E, ao agredir a estética urbana, caracteriza-se como poluição visual.”        (grifo nosso)
 
  O que a autora toma aqui como a “estética urbana” vai na mesma direção de se pensar a cidade no sentido apenas espacial, excluindo dela o sujeito. Interessante seria perceber que, na sua fala, a autora se refere ao texto publicitário, quando diz que “é assimilada, mesmo contra a vontade, pelos transeuntes”. Se retomarmos ainda a citação na qual afirma que “nem sempre são percebidas como algo desagradável”, podemos então pensar que não se trata apenas das mensagens em si, mas de todo o arsenal que constitui essa prática, incluindo aí as estruturas que