Revista Rua


Mídia e Espaço Público

Guilherme Carrozza

instalados sobre muros e pintados de cores claras, onde qualquer interessado poderia escrever – com carvão – mensagens de venda, compra ou troca de mercadorias”[10]. Esse fato faz parte do processo histórico de fazer dos muros espaço de circulação de anúncios de produtos e serviços[11].
Com a imprensa, surgiu também o cartaz, na forma como o conhecemos hoje, impresso em papel e com o costume de ser afixado em vias públicas.
O que se percebe na utilização de muros tanto para grafites e pichações, quanto para divulgação de anúncios, é que não é apenas o muro que se apresenta como suporte, mas o muro no espaço urbano, ou seja, o muro funciona como mídia no espaço de convivência dos sujeitos.
Com o desenvolvimento da indústria e o conseqüente aquecimento da economia, as empresas privadas foram, aos poucos, fazendo uso das mais diversas formas de anúncio, incluindo-se aí também as que circulam nas ruas. O que é de chamar a atenção nesse fato, é que as dimensões dos anúncios exteriores foram ficando cada vez maiores, e hoje nos deparamos com painéis gigantes que encobrem fachadas inteiras de prédios. Como bem observou Payer (2005), os textos da mídia “já não se apresentam mais apenas de modo super e extra, hiper e ultra, pois de inflacionados perderam lugar para os mega, giga, hexa.” (op. cit., . 19). Diremos mais, se nos lembrarmos das mídias convencionais e seus espaços limitados. Consideramos que da necessidade de parecer cada vez maiores, seu texto já não cabe mais apenas na tela da TV, ou na caixa de um rádio, ou ainda na página de uma revista ou jornal. Sai para a rua... Extrapola seus limites, extrapolando também os limites do sujeito que agora pratica seu gesto de leitura frente às mídias em qualquer lugar, sendo identificado constantemente como consumidor. É algo que funciona compulsoriamente materializado no excesso, que se dá aqui pela visão e pela quantidade[12].


[10] De acordo com o site www.outdoor.com.br
[11] Horta Nunes, em seu texto “Janelas da cidade: outdoors e efeitos de sentido”, publicado na revista Escritos nº 2 (Nudecri/Labeurb), refletindo sobre a relação do texto com a cidade, salienta que na passagem da cidade medieval para a cidade burguesa não só os limites físicos são rompidos. Um movimento motivado pelo interesse crescente na circulação de bens entre as cidades fez com que também se abrissem as fronteiras simbólicas, com a exposição de textos nas vias públicas.
[12] Orlandi (in Mariani [org.], 2006: 27) já atentou para esse fato, afirmando que “o alcance da publicidade [...] também funciona pela quantidade e concentração: repetidamente se encontram no espaço urbano mensagens publicitárias que cobrem todo o espaço visível, espaço desde então transmudado em espaço lisível.”.