Revista Rua


Mídia e Espaço Público

Guilherme Carrozza

 

espacialização. Assim, classificam-se os mass medias como os meios de comunicação de massa, destinados ao grande público e que podem também ser chamados de meios convencionais. Nessa classificação, encaixam-se a televisão, o jornal, a revista, o outdoor, o rádio. Diremos que são meios capazes de levar a mensagem a uma grande fatia de público ao mesmo tempo.
No nosso ponto de vista, o que faz um meio ser chamado de convencional é o próprio fato de ter sido criado para tal fim. Nesse sentido, poderíamos dizer que há um uso considerado principal e que, sendo usado dentro de determinadas normas, convenciona-se o objeto para aquele fim. Gostaríamos ainda de acrescentar que o uso principal é aquele que foi instituído pela história da própria utilização do objeto e pela sua estabilização em função de uma regularidade na utilização. Assim, o uso da televisão, do jornal, da revista, do rádio e do outdoor como meios[7] de se levar o anúncio de um produto ao consumidor é algo que, pela história, veio se convencionando como uma finalidade.  
Desde o tempo em que o homem vivia nas cavernas, as paredes eram utilizadas como suportes de manifestações não orais e nelas os homens se representavam e representavam situações do seu cotidiano através de pinturas e desenhos. Segundo alguns historiadores, essa é a origem da pichação e do grafite[8]. De qualquer forma, é importante que ressaltemos que a utilização de paredes públicas como suportes de mensagens não é, de forma alguma, algo recente. Dessa observação, porém, é importante que se guardem as análises de Orlandi (2004), em seu texto “Metáforas da letra: escrita, grafismo”. Segunda a autora, a pichação e o grafite funcionam como processos de identificação dos sujeitos numa sociedade que se organiza pela ordem do Estado. E que justamente essas manifestações colocam em jogo os sentidos de público e privado no espaço urbano, promovendo uma indistinção entre as duas instâncias. [9]

 

A utilização de aparatos que extrapolavam a simples pintura em paredes, contribuindo para o aparecimento de novas tecnologias que funcionariam como suportes a mensagens na rua, data de muito antes do surgimento da imprensa. Conta-se que na Roma Antiga “já existia a presença de uma espécie de cartaz-mural que eram retângulos divididos por tiras de metal

 



[7] Da mesma forma, utilizamos aqui o termo “meio” também no sentido colocado pelas teorias da comunicação, entendido como o espaço físico no qual circula o dizer, podendo também ser tomado como o suporte espacial da mensagem. De nossa perspectiva, vale ressaltar que o que tomamos como texto, na sua materialidade, está intimamente relacionado ao seu espaço de circulação, seja num sentido estrito ou num sentido lato. De acordo com Orlandi (2004: 121), “os diferentes materiais e as diferentes superfícies determinam diferentes relações com/de sentidos.”
[8] Embora sejam manifestações que se dão no mesmo espaço, há uma diferença entre a pichação e o grafite. Enquanto a segunda aparece como uma manifestação artística, de certa forma “autorizada”, a primeiro traz, pela sua história, sentidos de transgressão, já que se caracteriza por uma prática proibida e contestadora. Orlandi (2004) apresenta as diferenças no âmbito do discurso entre essas duas formas de escrita em Cidade dos Sentidos (p. 105 a 118)
[9] Essa indistinção entre o público e o privado parece se evidenciar não só no fato de um pichador se “apropriar” de uma parede ou monumento público para deixar ali sua marca. Orlandi (2004) relembra o caso dos condomínios residenciais, que demarcam territórios e estabelecem o que fica dentro e o que fica fora. Nesse sentido, questiona-se sobre o estatuto da rua dentro dos condomínios. De nossa parte, ressaltamos mais uma vez as manifestações nas quais uma marca se apresenta estampada em dimensões gigantes em muros e edifícios ou ainda quando uma empresa “adota” um espaço que, a priori, seria de responsabilidade do Estado.