Revista Rua


Mídia e Espaço Público

Guilherme Carrozza

 

 
 
(fotos: arquivo do grupo)
 
Esse gesto[14] de abordagem traz consigo um pré-construído que nos remete à situação de uma abordagem inesperada, como acontece num assalto à mão armada. Se levarmos em conta que, num processo de individualização do sujeito pelo Estado, funciona uma ordem jurídica de direitos e deveres, aquilo que resulta no sujeito individualizado é já o indivíduo social que tem como efeito o direito de andar livremente pelas ruas. Nessa perspectiva, a abordagem aparece como algo que incomoda.
Perguntamos até que ponto e, principalmente, por que esse gesto de entrega de folhetos na rua, embora caminhe no sentido da violência e do constrangimento, fica nesse limiar que não vai nem para o lugar do assalto, nem para o da  mendicância, que também pode ser relacionada a uma situação de abordagem inesperada. E isso, no nosso ponto de vista, se justifica pelo fato de que há, nesse gesto, uma relação com o trabalho que o autoriza. Não se trata de bandidagem


[14] Pensamos aqui em gesto tal como propõe Orlandi (2004) que, partindo da noção de gesto de M. Pêcheux como um “ato no nível simbólico”, não estaciona aí, mas considera a forma como a interpretação desse movimento intervém no real do sentido.