Revista Rua


Mídia e Espaço Público

Guilherme Carrozza

e é atravessada pelo discurso ambientalista, estabelecendo uma relação direta entre o visualmente excessivo e aquilo que “suja” a cidade. Interessante pensar que o termo ganha visibilidade nesse momento em que, como dissemos, os textos da mídia ganham cada vez mais espaço nas ruas.
             Embora na sua definição o termo sugira a remoção dos elementos do ecossistema, percebe-se que historicamente ele funciona principalmente pelo acréscimo. Ninguém diz que um rio está poluído por ter menos produtos químicos, ou que um local é poluído porque tem menos dejetos de lixo. Ou seja, tem a ver com quantidade, e sempre no sentido do a-mais. E a cidade, como aponta Orlandi (2004), tem uma materialidade própria que tem uma ancoragem simbólico-política na quantidade, supondo muitos do mesmo no mesmo lugar.
 
“Há uma demanda política e simbólica da cidade que passa pela quantidade funcionando em um espaço historicizado: esta ancoragem simbólico-política que é a quantidade espera por metaforização em gestos de interpretação próprios ä cidade em suas diferentes formas de signifcar. No entanto, em um espaço já significado pelo cálculo e pela abstração inviabiliza-se esta metaforização. Não há espaço na cidade que já não seja espaço urbano, não há espaço vazio (espaços disponíveis): há o muito cheio (o excesso) do discurso sobre o urbano, uma saturação dos sentidos público que desemboca na desorganização, já que não há espaço para a incompletude.”(Orlandi, 2002: 190).
 
A questão que se coloca é: como, na história, essa quantidade se estabelece como aceitável, suportável ou não? E como pensar, nesse caso, a questão da poluição visual? A junção desses dois termos em um sintagma nominal parece ser algo bastante recente e parece também apontar para o excesso. Um excesso que incomoda, desespera e, segundo ainda alguns comentaristas da lei, “esconde o que a cidade realmente é”.
O que nos abre para uma questão: o que é a cidade? Um aglomerado de edificações, escondidas por trás de anúncios publicitários? Parece-nos que, utilizado dessa forma, o termo trabalha no equívoco, excluindo da cidade qualquer possibilidade de sentido enquanto lugar de relações sociais. Apaga a história. Projeta um real que não se sustenta, porque não foi assim instituído pela história. Como aponta Orlandi,
 
“...a quantidade, na prática simbólico-política capitalista, se metaforiza mal e o que seria a ‘falha’ que é parte da transformação possível se transmuda em violência porque não é acolhida pela história.” (Orlandi, 2004: 64).