Revista Rua


Mídia e Espaço Público

Guilherme Carrozza

 

discursivamente: em que o político é constitutivo[1]. Esse silenciamento cristaliza sentidos de social remetidos ao urbanizado e organizado.
E quanto à distribuição de folhetos? É pelo fato de serem jogados nas vias públicas depois de lidos que podemos pensar na sua relação com a poluição visual? Propomos sair dessa transparência e pensar que, trabalhando no excesso, essa prática vem de encontro à necessidade imaginária de uma cidade organizada. Aquelas pessoas que distribuem os folhetos, mesmo numa prática permitida pela relação de trabalho que a sustenta, representam obstáculos que atrapalham o fluxo, retêm o ritmo e desorganizam a divisão do espaço urbano, ao se aglomerarem nas ruas e cruzamentos, impedindo, de certa forma, a passagem livre de pedestres e motoristas. Nesse sentido, “enfeiam” a cidade. E esse “desarranjo do urbano” resulta numa “visão desorganizada” que desliza para uma “poluição visual”. 
 
 
 
Paul Henry já nos disse que “Não há ‘fato’ ou ‘evento’ histórico que não faça sentido, que não peça interpretação, que não reclame que lhe achemos causas e conseqüências” (Henry, 1997, p. 51 e 52). Ao se mostrar como um ponto na “materialidade significativa da cidade” (Orlandi, 2004), a mídia exterior se coloca nesse espaço de contradição que fica entre o citadino e o urbanizado. E nesse movimento do político, na relação com discursos outros, estabelece-se como aquilo que, funcionando pelo excesso, desorganiza o necessariamente organizado.


[1] Na perspectiva da qual olhamos o fato, pensamos num espaço de contradição que se mostra na medida em que interdiscurso e intradiscurso se relacionam num processo de nivelamento do primeiro pelo segundo (cf. Courtine), deixando marcas capazes de apontar para as formações ideológicas que sustentam o dizer