Revista Rua


Mídia e Espaço Público

Guilherme Carrozza

 

Pela Análise de Discurso pensamos num sujeito que é disperso na sua constituição, mas que tem como efeito a unidade. Pensar na cidade como espaço de relação entre esses sujeitos é pensar, então, numa organização que traz, também na sua constituição, uma reunião de dispersões que, no seu funcionamento, também produz a unidade como efeito. A cidade, enquanto organização que funciona sob a ordem do Estado, necessariamente – e imaginariamente - é vista como um espaço sobre o qual a administração pública exerce seu controle. E é a unidade, enquanto efeito, que vai permitir que o Estado administre esse espaço.
O que se vem notando atualmente é que as práticas midiáticas nas ruas, ao se apresentarem ao sujeito, deslocam os sentidos do citadino e do urbano. Nesse sentido, procuramos pensar nos textos que circulam atualmente na sociedade – e mais especificamente no espaço urbano – e pareceu-nos bastante produtivo buscar entender o funcionamento midiático por meio de um recorte que é o lugar do anúncio publicitário. Assim, não falamos de um anúncio específico ou de um meio específico, mas da prática de se anunciar uma marca ou produto na rua enquanto prática simbólica, que nos coloca questões sobre os sentidos da cidade e que vão para esse lugar de conflito entre o que é suportável e o que é excessivo, construídos historicamente enquanto tais.
Analisaremos dois tipos particulares de manifestações midiáticas no espaço urbano: a primeira se refere à instalação de placas, luminosos e outdoors na cidade de São Paulo. A segunda, à distribuição de folhetos impressos a pedestres e motoristas na cidade de Pouso Alegre. Ambas levadas em consideração na sua relação com o político e seus efeitos e conseqüências sobre aquilo que é o próprio da cidade.
 
Rua: lugar de possibilidades
 
Quando nos referimos aqui ao espaço urbano, pensamos principalmente na rua conforme colocado por Horta (in Orlandi [org.], 2001: 101) como a fusão do espacial e do social. Em outras palavras, falar de rua hoje significa colocar em jogo uma conjugação de sentidos que remetem, ao mesmo tempo, ao espaço físico no qual os sujeitos circulam (incluindo aí as praças, calçadões, fachadas de prédios etc.) e à ordem social na qual os sujeitos se inscrevem. O que há em comum nessas duas direções de sentidos é que ambas se referem ao que é público, tomado aqui como aquilo que, em primeira instância, é acessível a todos e a qualquer um. Mas isso não nos permite afirmar que o sentido atual de rua, enquanto lugar público, se coloque diretamente em contraposição ao que é privado. O que se vem notando é a entrada nessa paisagem urbana de um número cada vez maior de manifestações que trazem em si marcas de um privado que se faz público – ao mesmo tempo em que “privatiza” o que é público – ao se inserir nesse espaço. Estamos aqui nos referindo aos inúmeros letreiros, outdoors, painéis e outros tipos de mídias tão comuns atualmente. Vale lembrar também das