Revista Rua


Um glossário contemporâneo: a língua merece que se lute por ela
A contemporany glossary: the language that deserves to fight for it

Vanise Gomes de Medeiros

 

analistas de discurso, é “não há dominação sem resistência: primeiro prático da luta de classe, que significa que é preciso ‘ousar se revoltar’” (1988,p.304).  Resistência, aí, se alia à revolta, opondo-se à dominação; faz parte da luta de classes. Resistência implica suportar e sustentar outro lugar que não aquele da dominação. É ainda com ele que sabemos que tal embate se faz também na língua. Se que há um real da língua, trazendo Milner, há também um real da história. Lá, o equívoco, aqui a contradição, indissociados:
 
(...) o equívoco aparece exatamente como o ponto em que o impossível (linguístico) vem aliar-se à  contradição (histórica); o ponto em que a língua atinge a história. (GADET & PÊCHEUX, 2004, p. 64)
 
Os processos revolucionários, ele segue, se manifestam também na língua; ou melhor, não estão dela apartados:
 
Toda desordem social é acompanhada de uma espécie de “dispersão anagramática (Baudrillard), que     constitui um emprego espontâneo das leis linguísticas do valor: as massas “tomam a palavra”, e uma profusão de neologismos e de transcategorizações induzem na língua uma gigantesca “mexida”, compararável, em menor proporção àquela que os poetas realizam. (GADET & PÊCHEUX, 2004, pag. 64)
 
Poetas e massa trabalham a língua. Julgamos que o glossário de Buzzo configura um trabalho que se ancora neste lugar em que as massas passam a fazer valer seu falar. No caso, a inscrever com a escrita do glossário – na disputa pelo sentido e pela ortografia – um lugar na língua.
 
Referências bibliográficas
 
AGUALUSA,J. E. 2010. Milagrário pessoal, Rio de Janeiro, Língua Geral.
 
AUROUX, S. 1992. A revolução tecnológica da gramatização, Campinas, SP: ed. da Unicamp.
 
_____­­­­­_______. 2008 “Listas de palavras, dicionários e enciclopédias. O que nos ensinam os enciclopedistas sobre a natureza dos instrumentos lingüísticos”. In Revista Língua e Instrumentos Linguísticos, no. 20, Campinas: Pontes.
 
AUTHIER-REVUZ, J. 1998. Palavras Incertas. Campinas, SP: Unicamp.
 
AZEREDO, J. C. 2000. Fundamentos da Gramática do Português. Rio de Janeiro: Jorge Zahar.