Revista Rua


Denominação: um percurso de sentidos entre espaços e sujeitos
Denomination: a course of senses among places and subjects

Greciely Cristina da Costa

da favela enquanto comunidade" (p.74). Nesta conjuntura, essa denominação estava ligada à configuração de família enquanto célula fundamental e da vizinhança como uma garantia de coesão social (VALLADARES, 2008) da comunidade.
De nossa perspectiva, um dos efeitos de sentido produzido por essa política parece ser o de buscar a negação de dizeres estereotipados sobre os moradores das favelas, sobre esse espaço. No entanto, discursivamente, a substituição lexical (de favela para comunidade) ao dar visibilidade, ou acentuar esse efeito de negação, parece, também, dar visibilidade a uma população irreconhecida pelo Estado, estranha à cidade e que está à margem da sociedade reconhecida pelo Estado, ou seja, reafirma que ela está em outro lugar. Parece afirmar a segregação. Parece afirmar, ainda, o que Touraine (1991) chama de sociedade de segregação, caracterizada pela ruptura entre o fora e o dentro (p. 171), ou melhor, pela "passagem de uma sociedade vertical, que nós habitualmente chamamos de sociedade de classes [alta e baixa] para uma sociedade horizontal, na qual o importante é saber se se está no centro ou na periferia" (p. 166 - tradução nossa). Nesta direção, denominar favela de comunidade é ressaltar a diferença entre ela e a sociedade, e remetê-la aos seus já-ditos. Dar o nome de comunidade à favela significa, a princípio, deslocar a imagem estereotipada de favela e tentar consolidar uma política de reivindicação para aquele espaço, que visava, segundo Valladares (2008), a promoção do autodesenvolvimento, a autonomia e capacidade de liderança dos moradores. Dessa política emergiu a ideia de comunidade que abarcava e reunia os indivíduos em torno de uma representação coletiva. Como resultado da Cruzada e dessas propostas, surgiram as primeiras associações de moradores. 
Por outro lado, essa denominação marca a instauração do comunitarismo que emerge quando o Estado falta/falha. Visto por Touraine (2007), o comunitarismo é oposto à cidadania, "definido em sentido estrito pelo poder dos dirigentes da comunidade de impor práticas e interditos a seus membros. O que limita o direito cívico dos homens e mulheres envolvidos" (p 170), submetendo-os a restrições internas, contribuindo para a negação de direitos que afeta os moradores de favelas até hoje.
Observamos, portanto, que a denominação comunidade tem seu sentido dividido, especialmente, quando relacionado a esse espaço específico da favela. Seu