Revista Rua


Denominação: um percurso de sentidos entre espaços e sujeitos
Denomination: a course of senses among places and subjects

Greciely Cristina da Costa

aglomerados subnormais, denominação do IBGE para “grupos de mais de 50 unidades habitacionais dispostos de modo ‘desordenado e denso’, sobre solo que pertence a terceiros, e ‘carente de serviços públicos essenciais’”, que se opõem a setores (não especiais) – outra denominação também do IBGE e à cidade formal (CEZAR, 2002: p. 1).
            Esse discurso do IBGE, de certo modo recupera dizeres semelhantes aos lexicográficos, ignorando igualmente a existência de uma sociedade que vive na favela. Denominar aglomerado subnormal é recortar uma região do interdiscurso que confere à subnormal em oposição a normal e a formal, sentidos tais como: anormalidade, defeito, inferioridade, deformidade, informalidade. É lançar para fora do espaço dito normal, uma sociedade que chega a aproximadamente 19% (dado do censo de 2000) da população do Rio de Janeiro.
Segundo Cezar (2002), o IBGE utiliza essa divisão e essas denominações por uma questão metodológica, tendo em vista a dificuldade de estabelecer uma linha divisória entre favela e bairro, por exemplo, no morro do Vidigal. Dificuldade essa que o autor estende à delimitação entre invasão, favela e loteamento irregular, a que ele chama de matizes (p.1). Não se tratam de leves diferenças! Para Cezar, trata-se de uma questão terminológica resultante dessa dificuldade, que para nós, é uma dificuldade de compreender a política dos sentidos. Para nós, trata-se de um gesto que fortalece a segregação. Enunciar subnormal é uma forma de segregar a sociedade. Sobressaem-se no discurso institucional o desordenamento e a quantidade, o caráter ilegal do solo e a carência de serviços públicos essenciais. Esse é um discurso que vai ser reproduzido ao longo da história da favela e incidir na configuração do sujeito morador, isolando-o, marginalizando-o.
Freire (2008) observou em sua pesquisa que
 
entre os moradores, a categoria ‘favelado’ possui diferentes significados, mas sua enunciação evoca sempre comportamentos percebidos como moralmente inferiores, associados ou não, como ser mal-educado, falar palavrões, andar malvestido ou sujo, consumir drogas, prostituir-se, mendigar, ser desonesto, brigar na rua, roubar, enfim, ‘praticar tudo de errado’ (p. 106-107 – grifos da autora).
 
Ou seja, o próprio sujeito-morador identifica o favelado de forma estereotipada. Notamos que para “escapar” desses sentidos, dessa identificação, esse sujeito não denomina, ou seja, não significa seu espaço como favela. Ele substitui um nome por outro. É o que veremos nos fragmentos abaixo. Antes, porém, é importante observar que