Revista Rua


Denominação: um percurso de sentidos entre espaços e sujeitos
Denomination: a course of senses among places and subjects

Greciely Cristina da Costa

O sujeito é tomado pelo discurso urbano, pois seu dizer remete à ausência de saneamento básico, de urbanização, à falta de organização, atribuídos à favela em contraposição a bairro, que é organizado, tem asfalto. “E30: É que tem realmente uma parte lá que é tipo assim a beira do rio que se chama que é a favela lá. Mas eu, por exemplo, eu não moro na favela eu moro na parte residencial...”
            Favela não tem parte residencial é tipo assim a beira do rio. A imagem construída de residencial por este sujeito exclui favela do perímetro urbano, do perímetro habitável. “E37: Aqui não é comunidade, tipo favela, você sabe, então as pessoas têm uma vida mais reservada.  Todo mundo respeita todo mundo. É muito família aqui.”
Favela, novamente, é definida por uma interpretação que recai sobre o morador.
 
E44: Aqui não tem como eles [os milicianos] fazerem como fazem em comunidade, que aqui não é favela, nem comunidade assim; aqui é bairro de família. As pessoas se conhecem. E não têm como fechar as ruas porque é um bairro.
 
Comunidade, quando identificada como favela, se opõe a bairro significado a partir de duas ordens: social e urbana, pois se trata de bairro de família e tem ruas, não é terra de ninguém, por isso os milicianos não podem fazer o que fazem na/com a favela.
 
Considerações Finais
 
            Todas as características negativas atribuídas ao espaço da favela, de certo modo, recaíram, como pudemos ver, sobre o sujeito morador. A terra dita sem lei, o espaço dito sem higiene, entre outros, constroem a imagem de favelado e derivaram para outras significações que o marginalizam, como em: “favela é um monte de gente sem nenhuma educação, casas com gato de luz e água, casas coladas uma na outra” (apud. FREIRE, 2008: p. 104). Em favela é monte de gente, o espaço, ou seja, a denominação favela é evocada para definir/significar o morador. Um tomado pelo outro. O corpo do espaço e o corpo do sujeito encontram-se atados. Ao mesmo tempo, enunciar favela e não morador é sobrepor, ou reduzir os sujeitos em detrimento do espaço. Os sujeitos são textualizados como monte de gente, ou seja, qualquer um, todos. A generalidade dessa forma apaga morador, apaga as reais condições de existência dos sujeitos que habitam a favela. Apaga a possibilidade de denominá-la sociedade, de dar visibilidade à casa, à