Revista Rua


Denominação: um percurso de sentidos entre espaços e sujeitos
Denomination: a course of senses among places and subjects

Greciely Cristina da Costa

outras duas denominações aparecem numa relação sinonímica com aglomerado subnormal, são elas: comunidade e bolsão de pobreza da cidade (CEZAR, 2002). Este último é renomeado em vários discursos por áreas pobres da cidade, regiões carentes, ou seja, se situam em uma formação discursiva filiada à memória de pobreza. Esse sentido também é atribuído a bairro, mas como veremos no discurso dos moradores, morar em uma favela não se equipara a morar em um bairro.
                  
Comunidade
 
comunidade, segundo o dicionário de Ciências Sociais aparece com acepções variadas, mas comumente como sinônimo de sociedade. No entanto, a denominação comunidade tem funcionado como sinônimo, ou vem substituindo favela em muitos discursos, principalmente no da mídia. Que efeitos de sentidos são produzidos por essa relação sinonímica, por essa substituição? Como funciona no discurso de moradores (de algumas regiões) do Rio de Janeiro?
Essas relações referentes ao nome comunidade têm funcionado há algumas décadas e surgiram em um momento específico da história das favelas cariocas, que tem a ver com um movimento "político" de desenvolvimento da época, cujas figuras centrais são o bispo Dom Helder Câmara e o padre e sociólogo francês Louis Joseph Lebret.
Em um estudo sobre as favelas cariocas, Valladares (2008) além de criticar o modo como a favela é considerada desde os estudos urbanos até os sociológicos, em cem anos, a partir de certas representações sociais, descreve esse movimento político que se deu entre os anos 50 e 60. A autora explica que naquela conjuntura Dom Helder estava à frente da Cruzada São Sebastião e se opunha à Fundação Leão XIII, cuja intervenção da igreja católica nas favelas propunha a construção de creches e ambulatórios nas favelas por meio de ações caritativas. Todavia, mantinha uma atitude repressiva em relação aos moradores das favelas, pois praticava a condenação moral para pregar a educação social e a integração. Valladares (idem) explica também que, diferentemente, a Cruzada tinha por finalidade levar às favelas moradia, implementação de equipamentos de infraestrutura, etc. através da obtenção de recursos do governo federal. No entanto, o objetivo maior da Cruzada, a mesma autora explicita, era o de intermediar a relação entre Estado e população local com o intuito de defender as favelas do clientelismo político. Para Valladares, a Cruzada constitui