Revista Rua


Denominação: um percurso de sentidos entre espaços e sujeitos
Denomination: a course of senses among places and subjects

Greciely Cristina da Costa

Com efeito, ao se denominar um espaço ou um sujeito, aquele que dá nome se posiciona discursivamente em relação a ambos na produção de significação, inscrevendo-se em uma ou outra formação discursiva, apagando um ou outro sentido. Processo esse movido pelo funcionamento da denominação.
Ao iniciarmos a leitura de parte de nosso material de análise durante a pesquisa de doutorado[2], a saber, uma entrevista com moradores das Zonas Oeste e Norte e Baixada Fluminense, do Rio de Janeiro – que é dividido em regiões administrativas compostas por bairros, bairros não oficiais e favelas – observamos que as denominações favela, bairro e comunidade se alternavam na referência ao espaço onde os entrevistados moravam, ou onde a milícia se impunha. Essa alternância, vista sob o viés discursivo, apontou indícios de uma tensão existente no movimento de diferentes denominações. Percebemos que o gesto de denominar esse lugar, enunciando um ou outro nome, implicava num processo de significação que coloca em cena a não-transparência da linguagem, seus equívocos e seus efeitos de sentido produzidos.
Diante desse fato discursivo, nos lembramos de uma inquietante questão exposta por Orlandi (2011) em relação à diferença, à sobreposição de duas denominações, são elas: comunidade e sociedade. A autora interroga: Por que chamar o bairro, a favela, a periferia de comunidade? Por que não sociedade? Nesta direção, investigamos quais são os sentidos que transitam entre essas e outras denominações. Para isso, investimos em uma análise sobre o funcionamento de algumas denominações que dão nome a certos espaços de cidade, ao mesmo tempo em que configuram sentidos para os sujeitos. Buscamos compreender, especialmente, a relação dos nomes com as definições atribuídas a eles em seus efeitos metafóricos visando o processo discursivo engendrado pela substituição de uma palavra por outra, de um nome por outro, de modo a explicitar seus equívocos.
 
Dizeres Estabilizados

Para começar, apresentamos a definição de favela em um dicionário, partindo do pressuposto de que esse último, segundo Nunes (2006), é “um dos lugares que


[2] Analisamos processos discursivos desencadeados pelo funcionamento da denominação milícia a partir de diferentes discursos sobre: discurso jurídico, discurso midiático, discurso de moradores do Rio de Janeiro etc. Observamos, especialmente, a produção de evidências movida pela relação entre interpretação e formações imaginárias em jogo na constituição de discursos sobre.