Revista Rua


Denominação: um percurso de sentidos entre espaços e sujeitos
Denomination: a course of senses among places and subjects

Greciely Cristina da Costa

Introdução
 
Propomos compreender, ao longo desse trabalho, a política da palavra (ORLANDI, 1989) a partir do funcionamento discursivo da denominação considerando que toda “denominação circunscreve o sentido do nomeado” (ORLANDI, 1990: p. 57) e que toda denominação acarreta um silêncio que o fato mesmo de nomear produz. Toda fala instala espaços de silêncio e o ato de nomear recorta esses espaços, definindo-os” (ORLANDI, 1989: p. 42)
Ao denominar, um processo de significação é instaurado e posto em movimento sob determinadas condições de produção. Nesse processo, o nome recorta uma região do interdiscurso que faz com que, ao denominar, se signifique, se produza sentido e esse se instale em uma formação discursiva. A denominação é, pois, também parte da construção discursiva dos referentes.
Formular é dar corpo aos sentidos (ORLANDI, 2001) e o gesto de nomear para nós é um dos modos de formular, de se interpor na relação indireta, opaca, da representação linguagem/pensamento/mundo pelo homem. É interpretar. É, por isso, também, dar corpo aos sentidos. É, ainda, levando em conta o que explica Orlandi mais acima, o gesto de nomear situa-se na fronteira entre o dito, o silenciado e o dizível.
O sujeito denomina e é denominado em um espaço material político-simbólico, um espaço que também é físico, concreto, territorial, geográfico, urbano, estereotipado, ou seja, composto por suas dimensões reais e imaginárias. Em um dos contos de Lygia Fagundes Telles nos deparamos com um exemplo da relação estabelecida entre denominação, sujeito e espaço. A autora enumera: “asilos, sanatórios, clínicas de repouso, institutos – dezenas de nomes, rótulos que variam com a condição econômica” do sujeito. Depois explica: “Se é louco pobre, nada cerimônia, é hospício mesmo” (TELLES, 1980: p. 25). Esse exemplo nos mostra que a denominação dirige os sentidos entre hospício e louco pobre. Mostra-nos, portanto, que denominar não é um gesto aleatório, trata-se de uma interpretação no nível do simbólico (PÊCHEUX, 1969; ORLANDI, 1996). E ainda, nos aponta para um percurso do sentido que vai do nome ao espaço, ou vice-versa e recai sobre a constituição do sujeito.
Considerando que, de acordo com Orlandi (2011), o modo como se dispõe o espaço intervém na configuração de sujeitos em suas relações, é uma forma de significá-los, é possível observar que a denominação intervém na relação entre espaço e sujeitos, no trajeto dos sentidos entre os dois como se fosse uma espécie de vetor de significação.