Revista Rua


O Invisível em La Ciudad Ausente
(The Invisible in The Absent City)

Livia Grotto

Fuyita. Embora narrado em terceira pessoa, é o único relato intitulado em que Elena é protagonista: “Sabía que la Clínica era siniestra, pero cuando vio aparecer al doctor Arana se le confirmaron las premoniciones; parecía estar ahí para hacer reales todos los delirios paranóicos”. (PIGLIA, 1995: 70)
A clínica, descrita como lugar do engano, da prisão, da tortura clandestina, das cirurgias que alteram a memória, reúne o que é combatido por Arana, ou seja, a subjetividade pura, que denuncia o que tenta ser escondido pelo Estado e, quem sabe, por uma polícia política em ação: “La Clínica era la ciudad interna y cada uno veía lo que quería ver”" (PIGLIA, 1995: 73)
Os “doentes” vivem em seu mundo, com seus próprios delírios. Seus olhos denunciam esse isolamento: Tano fala “mirando fijo”, mulheres têm “ojos melancólicos”, um jovenzinho usa óculos de oito graus/”"anteojos de ocho dioptrías”. Os internos são drogados com a finalidade de substituir a alucinação original por outra. A subjetividade é então falseada, pois o doutor Arana reinterpreta a primeira alucinação e, de algum modo, a traduz numa segunda narrativa, ilegítima, mas autorizada pelo Estado.
Elena tem um duplo propósito na clínica: investigar Arana e curar-se de suas alucinações. Seus objetivos estão inscritos no corpo, que alterna momentos de averiguação, quando se mostra uma máquina esquadrinhando a planta da clínica, 1995: suas portas falsas e alarmes, e outros, em que sente e tem medo, como se fosse humana. Logo percebe-se em risco e tenta fugir. Numa lanchonete da clínica, conversa com Luca Lombardo, conhecido como Tano/italiano, apesar de ser oriundo de Rosario:
 
   Hay que llegar a la isla – le dijo sin mirarlo –. Tengo un contacto, pero me vigilan.
   Nos vigilan a todos – le contestó él. Y le sonrió. Cuando sonreía parecía un loco. La miró con los ojos desviados –. (PIGLIA, 1995: 79)
 
A paranóia dos internos esboça uma verdade subjacente: impossível de ser vista, senão por meio das histórias da máquina, que concatena fatos do passado, do presente e do futuro. Nesse relato, por exemplo, há elementos de dois passados: um mais distante, com anarquistas como Macedonio, outro mais recente, com delatores de um lado e membros do ERP (Ejército Revolucionario del Pueblo) de outro. Elena-máquina lembra-se de Tano e reflete: “decía que era del ERP, pero ya no existía el ERP”