Revista Rua


O Invisível em La Ciudad Ausente
(The Invisible in The Absent City)

Livia Grotto

(PIGLIA, 1995: 76). Afinal, praticamente todo o grupo de guerrilheiros trotskistas fora liqüidado em torno de 1978. O presente do romance e da máquina situar-se-iam à frente dessa data. Os microfones e as câmeras que oprimem a liberdade – a pele oxidada da máquina – conduzem a um futuro, embora não muito longínquo.
Em outros momentos, há indícios, contraditórios, da data em que o romance se desenvolve. Quando a máquina narra o primeiro relato, explica-se: “Macedonio tenía en ese momento cincuenta años” (PIGLIA, 1995: 44). Nascido em 1874, a máquina teria surgido em 1924, quatro anos depois da morte de Elena. Em“La isla”, comenta-se: “en casi cien años, desde que en 1939 empezó el registro de los cambios [de las lenguas]” (PIGLIA, 1995: 135), situando o texto em torno de 2039. No mesmo relato, ao descrever o original de onde são retiradas todas as cópias do livro considerado a bíblia da ilha, o Finnegans wake, diz-se: “Es una viejísima edición numerada de Faber & Faber, que tiene más de trescientos años” (PIGLIA, 1995: 141). O livro de Joyce, tendo sido editado pela primeira vez em 1939, conduziria a narrativa para o ano de 2239. Entretanto, quando Junior encontra Russo, este lamenta: “Hace quince años que cayó el Muro de Berlín y lo único que queda es la máquina y la memoria de la máquina y no hay otra cosa” (PIGLIA, 1995: 155). O encontro, datado assim, teria ocorrido em 2004. Futuro sobre o presente, o texto parece buscar, reconstruir e recordar uma cidade que se perdeu em ruínas. Para tanto, recorre a uma visão poderosa e artificial, a da máquina, capaz de conectar eventos de ficção e de realidade, histórias pessoais e coletivas.
Os olhares que perpassam o romance procuram instituir uma observação cujo caráter maléfico ou benéfico seja objeto de debate. Aquele que deseja ser observado, ao contrário, tem poder incontestável, como Perón. Junior vai ao encontro de sua informante sobre a máquina, Julia Gandini. Enquanto a espera, escuta uma conversa num bar de Retiro. Depois de um dos homens comentar que sua esposa ficou sem sair de casa uma semana porque se dizia desfigurada por uma verruga, um outro retruca:
 
  Y Perón con todas esas manchas y esos lamparones en la cara, que le decían el manchado y aparecía por todos lados y se hacía fotografiar de cerca, al aire libre, la cara de cuero.
  El que tiene poder, si tiene poder, quiere que lo miren.(PIGLIA, 1995: 93)
 
Aquele que espia excessivamente, por seu turno, sem nunca fechar os olhos e, por isso, conservando demasiada consciência, é taxado de louco. É o que conta Julia a