Revista Rua


O Invisível em La Ciudad Ausente
(The Invisible in The Absent City)

Livia Grotto

respeito de Russo/Richter: “¾ El Ingeniero no duerme nunca – dijo ella –, vive para sus experimentos. Y por eso dicen que está loco.” (PIGLIA, 1995: 97)
 
* * *
Junior, o jornalista-detetive, segue em direção à casa de Carola Lugo, esposa de Russo na juventude. Encontra-a com “unos ojos indecisos, de ciega” (PIGLIA, 1995: 121). Conhece o pássaro gigante, também cego, construído por Russo. Nesse lugar habitado pela escuridão quase completa, Junior descobre um “catalejo”/binóculo que faz a vista alcançar a planície interminável. Carola lhe apresenta, então, o olho da máquina, raio de sol que tudo engloba, espécie de aleph. Semelhante ao conto de Borges, a perda de Beatriz Viterbo se converte numa luz brilhando num porão:
 
En un costado había una escalera que llevaba a un sótano y en ese lugar había un punto de luz. Era un agujero que se reflejaba en un caleidoscopio y desde ahí se podían ver otra vez la llanura y todas las figuras de la casa y la laguna de Carhué. Ve este rayo de sol, dijo Carola. Es el ojo de la máquina. Vea, le dijo ella. En el círculo de luz vio el Museo y en el Museo vio la máquina sobre la tarima negra. (PIGLIA, 1995: 123-124)
 
O objetivo de Junior e, portanto, o percurso do romance, é o esclarecimento dos motivos que levaram à construção da máquina e o modo como esta funciona. Contudo, não é possível entendê-la com exatidão. Sabe-se apenas que Elena escava com palavras, no seio do que é excessivamente visível, as lacunas propícias à manifestação do invisível. Ação perigosa, que talvez justifique seu aprisionamento. Por mais nova e original como tecnologia e engenharia, mesmo em plena vitalidade, o lugar destinado a ela é o museu – fechado, inclusive, no último relato do romance. Ninguém irá visitá-la e, caso isso ocorra, esse contato nada mudará, uma vez que a máquina foi brutalmente colocada em relação com o passado. É deixada ao pó e ao abandono através dos quais se reconhece o espaço museológico em A Máquina do Tempo de H. G. Wells (2001: 90).
 Elena está preservada no museu, classificada como um espécime raro, deslocada de qualquer possibilidade de interação com a cidade. Com o pretenso intuito de conservação, realiza-se a violência de determinar um sentido que, já estabilizado, pode ser excluído da sociedade. A ação da máquina, no entanto, é interminável, ainda que vigiada por câmeras. Sua memória e as histórias que conta não podem ser controladas