Revista Rua


O Invisível em La Ciudad Ausente
(The Invisible in The Absent City)

Livia Grotto

abyme da estratégia do romance, repetindo de várias formas histórias que procuram elucidar e assim remediar a cidade ausente.
Como todos os relatos de Elena-máquina, “La nena” é uma versão desviada de sua própria história. O título, inclusive, é um eco de seu nome: “La nena”/Elena. Sobre a menina, diz-se:
 
La preocupaban continuamente las maquinarias, sobre todo las bombitas eléctricas. Las veía como palabras, cada vez que se encendían alguien empezaba a hablar. Consideraba entonces a la oscuridad una forma del pensamiento silencioso. Una tarde de verano (a los cinco años) se fijó en un ventilador eléctrico que giraba sobre un armario. Consideró que era un objeto vivo, de la especie de las hembras. La nena del aire, con el alma enjaulada. Laura dijo que vivía “ahí”, y levantó la mano para mostrar el techo. Ahí, dijo, y movía la cabeza de izquierda a derecha. La madre apagó el ventilador. En ese momento empezó a tener dificultades con el lenguaje. (PIGLIA, 1995: 56)
 
Ambas estão condenadas às diferentes versões. Esse relato, entretanto, sublinha um impasse, ao desdizer a produção infinita de histórias, pois conta como a menina tornou-se uma “anti-Scheherezade” (PIGLIA, 1995: 61). A máquina é por vezes o espelho parcialmente invertido do romance, refletindo imagens opostas às que são contadas a seu respeito. Apesar da oposição mais evidente entre a máquina de narrar e a menina que deixa de falar, alguns elementos remetem duplamente a Laura e a Elena: a preocupação com maquinarias (o que no caso de Elena representaria atentar para o novo corpo), o olhar projetado sobre um objeto que conduz a relatos imaginários, a alma enjaulada do ventilador, que é como a da “nena” e a de Elena; o perigo de serem desligadas; o paralelo da luz que aciona um mecanismo cujo funcionamento produz linguagem a partir do que é observado.
 
* * *
 
 A perplexidade estabelecida pelo entrar e sair dos relatos – ora do romance que diz sobre a história da máquina, ora da máquina que se diz ao funcionar – assim como a imprecisão desse deslocamento, são percepções tanto das personagens com relação às histórias, quanto do leitor com relação ao romance. Essas sensações, embora atribuídas a outros, formam o texto e são parte de seu conteúdo, da escrita sobre o que está