Revista Rua


Saussure e o Sentimento: A Forma do Sentimento Lingüístico
(Saussure and the Feeling: the Form of the Linguistic Feeling)

Alessandro Chidichimo

Mas ainda, no que concerne a uma possível língua individual, independentemente do contexto didático, Saussure pensa na representação da língua no falante. A condição que o levará a considerar a imagem da língua nos falantes singulares como uma parte da imagem total da língua, mas não suficiente para completar a língua, que é sempre coletiva[11]. Saussure, então, fala da língua individual, mas num ponto de vista diferente que a possibilidade de considerar a língua como uma linguagem ad privatim. Se ele fala da língua individual, da imagem que cada falante tem da língua, esta imagem não deve ser pensada como um depósito, ou como algo estável. Parece que os falantes não utilizam um acúmulo de formas lingüísticas presentes no cérebro – as formas que estarão prontas para uma utilização pelos falantes como se se tratasse de instrumentos materiais. Os falantes são ao contrário capazes de reanimar e recompor as formas lingüísticas utilizadas segundo os momentos nas diversas situações discursivas e de emprego da língua. É a capacidade própria dos falantes de ter uma prática das formas. A imagem da língua nos falantes é então alguma coisa que é sempre colocada em discussão através dos diferentes empregos. A discussão está sempre aberta entre a língua e o sujeito. A representação da língua no falante então, é temporária e ligada aos deslizamentos das relações entre os signos e a interação dos falantes nos jogos de signos[12].
 
“O SENTIMENTO DA LÍNGUA” E “O SENTIMENTO DO SUJEITO FALANTE”
 
Um segundo nível de consideração está ligado aos diferentes empregos do termo sentimento. Saussure se serve de sentimento referindo-se aos sujeitos falantes ou à língua. As duas maneiras diferentes marcam dois pontos de vista diferentes para olhar o mesmo problema. Naquilo que concerne ao sentimento do sujeito falante é o conhecimento da língua pelos sujeitos falantes que está em jogo e ao mesmo tempo é o trabalho dos pesquisadores que olham a língua. Para Saussure, com efeito, se alguém quer conhecer o funcionamento das línguas, ele deve se colocar do ponto de vista dos sujeitos falantes para procurar penetrar o estado da língua do falante que fala uma língua histórico-natural.


[11]Cette chose bien qu’intérieure à chaque individu est en même temps bien collectif, qui est placé hors de la volonté de l’individu ; 1 + 1 + 1…….. = 1 (modèle collectif) (C, 308a).
[12] À luz da noção de  jeu des signes em Saussure, cf. Russo CARDONA (2008b, no prelo).