Revista Rua


Saussure e o Sentimento: A Forma do Sentimento Lingüístico
(Saussure and the Feeling: the Form of the Linguistic Feeling)

Alessandro Chidichimo

O falante, do nosso ponto de vista, de um lado tem a crença ligada ao fato de que a língua é transmitida. E todas as línguas dos falantes são apreendidas. Então o ponto de partida para construir as analogias entre as formas e para ter o sentimento da língua é partir das formas apreendidas. Aliás, o sentimento é como uma espécie de deliberação, mas ele é sempre uma deliberação entre toda a massa falante, ou todas as pessoas presentes no ato de discurso. A sanção coletiva, com efeito, é indispensável para determinar uma mudança, mas ao mesmo tempo esta sanção não é explícita, nós não temos uma assembléia de especialistas para decidir sobre o destino da língua, mas ela se determina ainda uma vez através do emprego. Na fala o falante utiliza a língua coletiva para efetuar atos individuais sempre diferentes. Mas se temos o sentimento com o ato de fala e se “Toute innovation arrive par improvisation, en parlant, et pénètre de là soit dans le trésor intime de l’auditeur ou celui de l’orateur, mais se produit donc à propos du langage discursif (ELG: 95), nesse caso o panorama interior dos falantes, aquilo que um homem pode sentir, é estruturado sobre as formasAs formas que são públicas e sociais. O interior é estruturado sobre o exterior e é somente graças às formas e à utilização das formas que há a possibilidade de experimentar um entendimento de nossa consciência da língua – e no mesmo nível somente em virtude da presença da língua há a possibilidade de uma espécie de autoconsciência. O sentimento da língua chega para o sujeito durante o ato de enunciação e depende dos deslizamentos das relações entre formas. Mas o sentimento está sempre presente na língua, ocorre que somente no momento da mudança ele é mais visível, como o sol durante o dia luminoso que não pode ser olhado diretamente pelo risco de ser ofuscado. Na iluminação do sentimento o falante vê o laço entre a língua e o sujeito, entre a indeterminação da infinidade das relações entre as formas e a possibilidade de determinação num ato de fala. Isso porque quando o falante sente que uma forma é mais justa, mais correta que uma outra forma, quando o falante sente que uma forma é justamente aquela forma e não outra, é como se nesse instante ele tivesse um ponto de vista privilegiado sobre a natureza da língua: ele se encontra frente a uma diferença.
 
CORPO A CORPO OU OS LIMITES DA LINGUAGEM
 
A realidade da língua mesma e o panorama interior do sujeito falante que toma a fala são articuladas em relação às formas, sempre públicas, utilizadas pelo falante numa