Revista Rua


Saussure e o Sentimento: A Forma do Sentimento Lingüístico
(Saussure and the Feeling: the Form of the Linguistic Feeling)

Alessandro Chidichimo

feita na fala: quando eu falo eu comparo formas, eu afirmo diferenças, e eu nego aquilo que eu não disse.
       Saussure falava da reflexão somente no Essence double quando fala explicitamente de pós-reflexão (cf. ELG: 87-88), onde o falante vai retornar sobre aquilo que ele faz. Quando a analogia está em movimento há uma combinação contínua entre determinado e indeterminado. Então a mudança lingüística é o momento crítico onde o sujeito falante durante um ato de fala tem a possibilidade de estar frente a uma nova forma. Durante o momento da mudança o falante sente o que está sempre em ato na língua: o jogo dos signos das formas da língua submetida à contínua mudança. Neste turbilhão de formas, o falante sente a justeza e a novidade do emprego de uma forma pela relação com a porção do sistema lingüístico que ele pode examinar. Com efeito, o falante saussuriano não tem a possibilidade de ter conhecimento de todas as relações do sistema lingüístico:

Quand nous disons que les sujets parlants pouvaient analyser undecim, cela ne peut avoir d’autre signification <il ne s’agit pas en effet d’analyser au moyen de dictionnaires étymologiques ou en recourant aux documents historiques de la langue!> que: ces sujets avaient dans la langue des mots concurrents comme unus et decem avec lesquels ils pouvaient comparer un et decem  (SAUSSURE, 1907, RI: 48).
 
Para Saussure, então, a mudança é improvisada, não há premeditação. A mudança está no discursivo, através dos diversos atos de fala momentâneos. Se a mudança é improvisada e está na fala, então o sentimento é ou simultâneo ou posterior à fala. Mas é um primeiro nível de análise que faz deslocar a atenção do interior para o exterior: não mais uma forma nova que chega à consciência do falante, mas uma reorganização das formas já presentes[15].
 
ESTAR ABSOLUTAMENTE EM SEGURANÇA
 
Fora da percepção da mudança, o falante se serve da língua como se ela fosse todo o tempo a mesma, verdadeiramente possível. Para descrever esta situação de certeza do falante me parece útil pensar na argumentação de Wittgenstein em Lecture On Ethics quando ele fala da “experience of feeling absolutely safe” (WITTGENSTEIN, 1965: 8). O falante não tem nenhuma dúvida a respeito da língua


[15] Da mesma forma nós consideramos que há uma diferença entre consciência e sentimento em Saussure.