Revista Rua


Saussure e o Sentimento: A Forma do Sentimento Lingüístico
(Saussure and the Feeling: the Form of the Linguistic Feeling)

Alessandro Chidichimo

efeito utilizado por Saussure quando ele fala de mudança, mutação, ruptura e manutenção das unidades. Do lado filológico nós devemos também considerar a razão pela qual, na evolução dos escritos saussurianos, o termo sentimento desaparece em certo momento. É possível que essa mudança, essa escolha terminológica esteja ligada à evolução das considerações no que concerne à teoria lingüística saussuriana e, além disso, na consideração dos cursos, a necessidades ligadas à didática[8]. Assim mesmo, o desaparecimento do termo sentimento no terceiro curso coincide com um ponto de vista diferente sobre o indivíduo – não mais como uma pessoa só, mas já como uma entidade plural[9].
Em relação ao falante, no primeiro curso Saussure declara explicitamente se colocar do ponto de vista do falante como se ele fosse individual[10], mas somente por uma razão didática, para simplificar a lição. É a mesma razão, superficialmente e numa primeira leitura, por exemplo, pela qual Saussure afirma que a fala é social, e a língua é individual:
 
Cette opposition de langue et de parole <qui> nous est mise <ici> dans le main, cette opposition est très importante par la clarté qu’elle <jette dans> l’étude du langage. Un moyen de rendre particulièrement sensible et <observable> cette opposition c’est d’opposer langue et parole dans l’individu (le langage est social il est vrai mais pour nombre de faits il est plus commode de le rencontrer dans l’individu). On pourra alors distinguer presque tangiblement ces deux sphères : langue et parole :
Tout ce qui est amené sur les lèvres par les besoins du discours et par une opération particulière : c’est la parole.
Tout ce qui est contenu dans le cerveau de l’individu, le dépôt des formes ‘entendues et’ pratiquées et de leur sens : ‘c’est’ la langue(SAUSSURE, 1907: 65, R I).


[8] Rappelons que Saussure doute, et particulièrement à l’époque des cours de linguistique générale, il ne fait que peaufiner sa théorie au fur et à mesure des nouvelles découvertes. Cela veut dire que la matière du premier cours n’est pas la même que celle du deuxième cours et encore moins semblable à celle du troisième cours. Par exemple, concernant la distinction langue/parole, Saussure a dit dans le premier cours l’exact contraire de ce qu’il affirme quatre ans plus tard dans le troisième cours, ce qui s’explique par un changement de perspective et par une théorisation déterminée, choisi seulement en 1911” (MEJIA, 2005: 52). Além disso, devemos destacar que há diferença entre as notas pessoais e as lições destinadas aos alunos: as primeiras sem nenhuma dúvida pertencem a Saussure;a propósito das segundas nós não podemos ignorar as necessidades da didática e a possibilidade das más interpretações: “Je me trouve placé devant une dilemme : ou bien exposer le sujet dans toute sa complexité et avouer tous mes doutes, ce qui ne peut convenir pour un cours qui doit être matière à examen. Ou bien faire quelque chose de simplifier, mieux adapté à un auditoire d’étudiants qui ne sont pas linguistes. Mais à chaque pas je me trouve arrêté par des scrupules (GAUTIER, 2005: 69. Cf. também GAMBARARA, 2005a.)
[9] É propriamente, com efeito, nesse curso que Saussure fala de intelligence collective (cf. GAMBARARA, 2005b).
[10] Para estudar a língua há a necessidade para Saussure de se colocar do ponto de vista do falante. Mas devemos considerar que há uma diferença entre pensar o falante na utilização da língua e fazer a experimentação de vê-lo na sua relação com a língua, mas sem a coletividade. É esse segundo caso em nossa opinião que Saussure examina aqui.