Revista Rua


Saussure e o Sentimento: A Forma do Sentimento Lingüístico
(Saussure and the Feeling: the Form of the Linguistic Feeling)

Alessandro Chidichimo

INTRODUÇÃO
 
Por que os falantes sentem que as palavras que eles utilizam para falar são adequadas para aquilo que eles dizem? Onde está pautada sua certeza? Nosso artigo procura responder a estas questões através da análise do termo sentimento na obra de Saussure. Nós vamos tentar compreender o emprego do termo por Saussure e olharemos o sentimento não como algo indefinido, um sentir vago e sem nenhuma possibilidade de definição e colocado em relação com a atividade locutória do falante, mas ao contrário como algo que está ligado às enunciações concretas. Nossa análise terá como conseqüência pesquisar qual é a condição do sujeito falante registrado no ato de fala. Segundo nós, no paradigma saussuriano, uma determinação do sujeito falante não pode ser pensada sem levar em consideração a presença constante do emprego da língua.
 
O SENTIMENTO NOS TEXTOS SAUSSURIANOS
 
A história do trabalho científico de Saussure é também caracterizada pela pesquisa constante de uma terminologia satisfatória para expressar, da melhor maneira possível, a teoria lingüística que ele procurou definir durante toda a sua vida. A necessidade terminológica estava marcada pela consciência das inovações teóricas de suas idéias em relação à lingüística e, portanto, pela vontade de Saussure de encontrar as palavras para ajudar, a ele mesmo em primeiro lugar, a compreender todas as conseqüências dessas idéias, para não deixar nenhum lugar à ambigüidade e, enfim, para mudar a direção em relação à lingüística de sua época[2].

No que concerne a esta utilização do termo sentimento em Saussure há diferentes níveis de consideração. O primeiro é filológico[3]. Durante os três cursos de lingüística geral entre 1907 e 1911, mas também nos escritos precedentes datando do período entre seu retorno à Genebra em 1891 e o projeto do livro De l’essence double


[2] É, por exemplo, suficiente considerar que os termos significante e significado são entradas que fazem parte, nesta forma, do léxico teórico saussuriano somente durante a lição de 19 de maio de 1911, que corresponde à última parte do terceiro e último curso de lingüística geral de Saussure.
[3] Com efeito, todas as vezes que discutimos Saussure, nós somos obrigados a declarar as escolhas dos textos utilizados, ou as edições de referência. Isso em razão da difícil história editorial dos textos saussurianos, mas também para se dar a possibilidade de seguir a evolução e as ramificações da terminologia utilizada por Saussure ligada ao contexto geral de sua teoria.