Revista Rua


Maquinaria da privacidade
Machinery of privacy

Marta Mourão Kanashiro, Fernanda Glória Bruno, Rafael de Almeida Evangelista e Rodrigo José Firmino

O presente artigo pretende percorrer algumas dessas pistas deixadas por Farocki para lançar uma reflexão ainda inicial sobre os embates acerca da privacidade, os deslocamentos e atravessamentos que a compõem e que são produzidos nesse processo. Documentos da política de privacidade da empresa Google são as fontes da análise empírica[1] presentes nesse texto, que parecem expor alguns dos elementos aos quais Farocki nos remete, assim como permitem observar uma parte do que se delineia como privacidade em disputa hoje.
 
2. A privacidade 2.0
A página de políticas (policies) do Google, aonde encontramos links para os “Termos de serviços” e para a “Política de privacidade” da empresa, exibe em letras maiores que as do restante da página a seguinte frase: "Estamos comprometidos com a melhoria de sua segurança, com a proteção de sua privacidade e com a criação de ferramentas simples para lhe dar escolhas e controle” (Google, 2013). Nessa mesma página, outras frases procuram expressar a preocupação da empresa com relação a privacidade, mas sempre colocando ao seu lado os termos “proteção” e “segurança”, os quais são relacionados ao usuário, a sua família e contra cibercrimes.
Como os “Termos de serviço” da empresa são alterados periodicamente em função de mudanças nos próprios serviços, o termo também busca encarregar o usuário de consultar regularmente as novas versões, já que ao concordar com o termo, ele estará submetido as alterações contratuais[2]. Este documento possui um tópico “Proteção à


[3] Outras fontes desta pesquisa em andamento, mas que não puderam ser detalhadas neste artigo são: política de privacidade do Facebook, da Microsoft, documentos que refletem exigências de privacidade por parte de grupos ativistas internacionais com atuação na América Latina, textos jornalísticos sobre o fim da privacidade e tentativas do governo brasileiro em prover informações sobre privacidade e internet. A partir da contraposição das definições de privacidade presentes nessas diferentes fontes vem sendo possível trazer a tona as tensões que constituem esse campo na atualidade.
[4]Em função do escopo deste trabalho, não será possível abordar o ponto a seguir que parece bastante interessante, em especial, quando pensado a partir da pesquisa desenvolvida por Rafael Evangelista que trata de cibernética e da ideologia da Califórnia (Evangelista e Kanashiro, 2013). O ponto em questão é o parágrafo final dos Termos de serviço que delega aos tribunais da Califórnia a resolução de possíveis litígios envolvendo o Google, e a possibilidade que as leis da Califórnia também façam precipitar os elementos pesquisados por Evangelista.