Revista Rua


O silêncio nos morros: relações de sentido silenciadas presentes nos livros Abusado e Cidade Partida
The silence in the hills: sense relations silenced in such books Abusado and Cidade Partida

Felipe Rodrigues

têm acontecimentos mais sensacionais, como grande número de mortos ou mudança no comando de uma favela. Os diversos pontos de vista dificilmente são escutados e, geralmente, apenas fontes oficiais e boletins de ocorrência são privilegiados no relato dos fatos.
Quando se fala em violência, a mídia também representa um determinado modo de produção discursiva, com seus estilos narrativos e suas rotinas próprias, que estabelecem alguns sentidos, com a apreensão e relato dos fatos. “A maior relação entre os meios de comunicação e a violência está na forma como o sistema de comunicação se articula com as condições de vida da população” (SODRÉ, 2002, p. 37). Por isso, a violência aparece como força mobilizadora e fundadora; expressa conflitos, dá visibilidade a questões sociais ou políticas latentes, provoca a produção de sentidos em diversas instâncias discursivas e aciona práticas institucionais e políticas (RONDELLI, 2000).

Os meios constituem um campo, o lugar onde se dá visibilidade aos diversos discursos e onde cada um destes se articula, não só com o discurso mediático, mas com os outros discursos presentes neste espaço de mediação. Assim, há um discurso político, religioso, jurídico, médico se articulando ao e no campo mediático. Este, por sua vez, não só os recodifica como os processa de modo intertextual, relacionando cada discurso com o outro, e todos eles com o discurso da mídia, advindo, deste entrelaçamento, ou intertextualidade, a produção de sentidos. (RONDELLI, 2000, p. 153)
 
A isso, em análise de discurso, chamamos “relação de sentidos”, ou seja, não há sentidos que se constituem isoladamente, eles estão em constante relação. Mais ainda, são sempre postos em relação sob os efeitos de uma outra relação igualmente importante: a relação de forças, que, na análise de discurso, indica que os lugares sociais, com seus poderes simbolizados, contam na constituição dos sentidos. Os discursos contidos nas reportagens oferecem ao leitor uma antecipação de interpretações e sentidos sobre o mundo e as situações de violência, influenciam sua percepção dos sentidos e restringem sua capacidade de elaboração de significados. Ou seja, quando se trata da violência significada pela mídia, ficamos no imaginário da violência, e não tocamos seu real.
A partir daí, o que se observa, via mídia, é uma violência banalizada, repetitiva (por isso corriqueira) e trivial, além da violência policial praticada de forma ilegal ou ilegítima. Pela mídia, a violência é transmitida de forma difusa e desordenada, com a diluição das causas que a provocam. Pela forma como é mostrado, como simples fenômeno de agressão física, sem ser encarado como linguagem, em seus processos de significação dos sujeitos, da sociedade e da história, o “retrato” da violência leva as