Revista Rua


O silêncio nos morros: relações de sentido silenciadas presentes nos livros Abusado e Cidade Partida
The silence in the hills: sense relations silenced in such books Abusado and Cidade Partida

Felipe Rodrigues

Introdução
 
O jornalismo contemporâneo é caracterizado por um processo industrial que, via de regra, impossibilita uma abordagem mais ampla das questões. Os relatos dos fatos aparecem em técnicas padronizadas que privilegiam respostas a perguntas básicas, buscando legitimidade nas declarações e fontes oficiais que aparecem nas linhas e imagens das notícias.
Notícias, reportagens e artigos passam a não mostrar a riqueza discursiva, conflitos sociais e personagens inseridos dentro do universo da violência nos morros cariocas. As coberturas da grande imprensa deixam de apresentar personagens, situações, antecedentes, conseqüências e interligações entre diversos fenômenos. No lugar, observa-se uma exaltação das qualidades dos meios de comunicação, com produções jornalísticas que refletem a ordem vigente, ao invés de colaborarem na apresentação ou denúncias de fenômenos sociais.
Embora existam exceções na mídia, o que acontece, predominantemente, é uma busca por atualizações cada vez mais momentâneas, notícias cada vez mais atraentes e um objetivo maior de superação da concorrência. Não há uma possibilidade de compreender as realidades sociais com mais complexidade, de forma pluralista, pois a rotina industrial dos meios de comunicação desestimula uma busca mais aprofundada dos repórteres na elaboração das produções jornalísticas. As reportagens passam a responder apenas a perguntas básicas às quais o receptor deve entender e dificulta o discernimento do caos social.
Proliferam-se produções impessoais, incapazes de auxiliar a compreensão dos fatos. As empresas jornalísticas, preocupadas com o desempenho comercial, atestam a incapacidade do jornalismo em tratar do cotidiano e mostrar histórias e personagens que possam ajudar na construção discursiva do “outro”. O empresário de comunicação distorce e manipula para agradar seus consumidores e, assim, vender mais material de comunicação e aumentar seus lucros. Embora a responsabilidade seja do próprio empresário, as suas motivações são predominantemente econômicas (ABRAMO, 1996).
Ao cobrir a violência, percebe-se que a mídia esquece diversas realidades e hierarquiza a produção jornalística conforme o grau de peculiaridade dos eventos. Locais sem um adicional simbólico não são capazes de fazer com que seus acontecimentos sejam bem situados, destacando seus aspectos multifacetados. Periferias que têm percentuais altos de violência só são objetos de cobertura jornalística quando