Revista Rua


Cidade narrada, tempo vivido: estudos de etnografias da duração
City told, Time lived: Studies in Ethnography of the Duration

Ana Luiza Carvalho da Rocha, Cornelia Eckert

Nesse ínterim do estudo da memória vivida no âmbito da identidade narrativa dos habitantes na cidade, cabe recorrer a Georg Simmel em sua teoria sobre a ação recíproca entre indivíduo e sociedade, entre micro situações e macro processos estruturais no mundo moderno, entre forma e discurso (Simmel, 2006). Em Simmel a vida social urbana é tema de estudo em suas formas, ou seja, a vida social é resultado mais de uma causalidade formal do que de uma causalidade material. Nesse sentido, podemos postular, seguindo o autor, de que toda a continuidade da forma de um corpo social está associada ao fundamento psicológico da representação de si-no-mundo.
Esta qualidade de tratar da vida dos habitantes na cidade os situa em suas subjetividades, como protagonistas de trajetórias pessoais e de constrangimentos que elucidam sobre a condição de indivíduo no mundo moderno contemporâneo. Mas igualmente os situam como sujeitos da cultura objetiva orientada pelo ritmo da vida urbana em suas estruturas e dinâmicas institucionais.
Há, aqui, de nossa arte, filiação ao princípio metodológico de Georg Simmel (1934), do ato recíproco entre cultura subjetiva e cultura objetiva. No jogar o social, como diria Georg Simmel para definir a sociedade, importa situar o esforço da produção de sentido que relacione o indivíduo à coletividade, que situe o urbano no social, que mapeie as ações de sujeitos na cidade aos valores éticos, em que embasam seus projetos de vida e formas de interagir no mundo social.
É nesta condição dialética que buscamos desenvolver exercícios etnográficos sobre as mais diversas situações sociais vividas no cenário urbano. É nos relatos de vida destes citadinos apreendidos em suas narrativas que procedemos a interpretação das formas de viver sociabilidades e interações nos ritmos da vida cotidiana.
Essa prática é oriunda do campo de conhecimento da antropologia, colocando em interface as especificidades temáticas da antropologia dita urbana, antropologia dita visual e a antropologia dita do imaginário. Neste entrelaçamento de linhas de pesquisa, nosso projeto epistemológico tem por orientação a tese da dialética da duração definida pelo saber bachelardiano que evoca, para o estudo da memória coletiva, o tratamento dos fenômenos da duração construídos como ritmos. Diz Gastón Bachelard:
 
Para durarmos, é preciso então que confiemos em ritmos, ou seja, em sistemas de instantes. Os acontecimentos excepcionais devem encontrar ressonâncias em nós para marcar-nos profundamente. Desta frase banal - 'a vida é harmonia' -,