Os sentidos atribuídos ao viaduto, enquanto “Garganta do Diabo”, não desaparecem por ordem de um governo ou de outro, por determinação do Estado. Ossites são diferentes e a recorrência se realiza de modo muito semelhante e isso vai ocorrer também em outros espaços de circulação de saberes. Trata-se do espaço público, onde funciona a ilusão de controle do Estado, mas se trata de uma comunidade, de um grupo social que construiu uma memória, eeste espaço de dizer comporta a heterogeneidade, o contraditório e é justamente por comportá-lo que a desregulação persiste.
É da famosa “Garganta do Diabo” que se fala quando se tem contato com o cartão postal de exuberante natureza. No entanto, a contradição não se dá apenas no espaço da nomeação. Cabe lembrar que a contradição se dá também no plano da imagem que está colada ao nome. De um lado temos a natureza exuberante que remete à força da vida, que atrai turistas; e, de outro lado, a profundidade fatal do Vale (sobre o qual foi erguido o viaduto), cenário de acidentes de trânsito, e, sobretudo, lugar que inspira potenciais suicidas. Talvez a mudança do nome também aspirasse à produção do apagamento das relações do nome com os atos suicidas; talvez se aspirasse afetar as atitudes daqueles que um dia reconheceram na “Garganta do Diabo” o cenário para o suicídio, daqueles que sobem a serra e lançam seu derradeiro olhar sobre a Santa Maria da Boca do Monte, decolando subitamente para um vôo sem volta, pleno em silenciamentos. Assim, perguntamo-nos: até que ponto a nomeação/renomeação afeta a memória de um grupo social? Seria possível apagar essa verdade implacável ou impedir a condenável prática social a partir da mudança do nome? Será que esta prática ficará na memória como uma