Revista Rua


De "garganta do diabo" para "ponte sobre o vale do menino Deus": reflexões acerca das práticas sociais e dos modos de designar o espaço público
From "Devil's Throat" to the "Bridge over The God Boy Valley": Reflections about the social practices and the ways to designate the public space

Verli Petri

terreno íngreme, e, depois, por ser eventualmente “freqüentado” pelas almas perdidas dos suicidas. E outra contradição se estabelece, pois se a “Garganta do Diabo” passa a “Menino Deus” e passa a integrar o espaço público urbano, ele será ocupado por homens vivos, cidadãos bem vivos que construirão suas casas, suas famílias e terão suas próprias práticas sociais. Há todo um imaginário coletivo em pleno funcionamento, que não pode ser negado, mesmo que ela se torne uma lenda, os sentidos da “Garganta do Diabo” sempre poderão retornar.
 
 
REFLEXÕES FINAIS
 
Enfim, da tensão entre o nomear e o renomear, o que prevalece é a imagem: intacta, absoluta. A imagem construída, a imagem inventada, a imagem sacralizada, a imagem profanada... a imagem captada pela lente do fotógrafo... a imagem que dá singularidade e identidade à cidade de Santa Maria. O cartão postal inesquecível, nomeado de uma forma ou de outra.
O ano de 2002 é o marco temporal em que se dá, oficialmente, a alteração do nome. Isso ocorre na materialidade da língua, e é visível na língua, mas e na ordem do discurso como isso se dá? Parece-nos que,em se tratando do discurso, temos o encontro/batimento entre língua-memória e legislação-história, o que obstaculiza uma substituição “naturalmente aceita” de um nome de um ponto turístico, espaço público, por um outro nome, mesmo que este “outro” seja politicamente “mais” correto que o primeiro. De fato, o juízo de valor que divide tudo o que se diz e o que se faz entre certo e errado não funciona neste espaço, porque há toda uma memória social ativa que não se sustenta somente sobre valores morais e, sim, sobre práticas sociais já consolidadas e dadas como próprias deste e neste grupo social.
Além de tratarmos da ordem da língua e da ordem do discurso, neste caso específico, faz-se necessário tratar da ordem do olhar, pois tanto o primeiro nome quanto o segundo remetem o sujeito a uma imagem, uma imagem que traz em seu escopo uma memória coletiva, um olhar coletivo. Esta memória não pode ser substituída como se substitui um nome; do mesmo modo que todo o imaginário social “santamariense” não se