Revista Rua


De "garganta do diabo" para "ponte sobre o vale do menino Deus": reflexões acerca das práticas sociais e dos modos de designar o espaço público
From "Devil's Throat" to the "Bridge over The God Boy Valley": Reflections about the social practices and the ways to designate the public space

Verli Petri

INTRODUÇÃO
 
O presente trabalho tem o objetivo de compreender os modos de funcionamento da história/memória na produção de sentidos observáveis nas relações entre diferentes práticas sociais e modos de designar um ponto turístico, portanto espaço público, de Santa Maria, RS. O “Viaduto sobre o Vale do Diabo” ou, simplesmente, “Garganta do Diabo”, situado em uma das possibilidades de entrada/saída da cidade, colocando o forasteiro em uma espécie de zoom metafórico[1] do que ele poderá encontrar ao chegar à cidade. O referido viaduto oferece uma vista privilegiada, sobretudo para quem está entrando em Santa Maria, o que parece se contrapor a essas designações, que se instituíram socialmente devido ao fato de que, antes da construção de tal viaduto (que ocorreu na década de 50, do século XX), aquela “passagem” na saída/entrada da cidade era muito íngreme, cercada de morros. Esta dificuldade na passagem é marcada também pela ocorrência de acidentes (de trânsito) e incidentes (sobretudo, suicídios), revelando uma outra face deste espaço às vezes mais e às vezes menos urbano.
Mas o fato que mais nos chama a atenção é a recente alteração oficial do nome “Garganta do Diabo” para “Vale do Menino Deus”, e são os movimentos de sentidos que essa alteração produz que nos propomos a explicitar neste trabalho. A investigação noslevaa refletir sobre o quanto a memória social continua produzindo efeitos na história oficial, uma vez que os sentidos estão inscritos num espaço discursivo já instituído como tal.
História e memória são duas noções muito caras aos estudiosos do discurso e é desta perspectiva que nos propomos a observar as relações entre as práticas sociais e os modos de designar o espaço público.


[1] Agradeço a Amanda Eloina Scherer pelas importantes contribuições na escritura deste texto.