prática de um passado longínquo? Estas são questões que permanecerão em aberto por um bom tempo, tendo em vista que o nome “Garganta do Diabo” persiste.
NO ESBURACAMENTO DA MEMÓRIA: A HISTÓRIA OFICIAL
Esburaca-se a memória, a Garganta do Diabo agora é Vale do Menino Deus,que ainda é a “antiga” ou a “conhecida” garganta do diabo, construindoa história oficial. Isso pode e deve acontecer, poisinstalar-se-á neste entremeio o jogo da metáfora de que nos fala Pêcheux(1995), e outros sentidos passarão a funcionar associados ao viaduto, revelando imagens outras que o nome “Vale do Menino Deus” permita em seu bojo... Isso significaria a alteração da designação (finalmente!), e não apenasdo nome. A partir da alteração da designação, haveria a instauração de outro nível de opacidade, tanto na língua quanto na imagem, enquanto prática social, e a sonhada transparência de sentidos continuaria como ilusão necessária ao sujeito que se constitui no e pelo discurso.
De fato, nada impede que a memória que hoje insiste em fazer retornar “Garganta do Diabo” se esburaque outra vez e, passado algum tempo, esse nome venha de fato a ser substituído por “Vale do Menino Deus”, pois, conforme salienta Orlandi (1999: 60-1), “é preciso que a língua se inscreva na história para significar”. Quase uma década se passou e isso não aconteceu totalmente, continua em processo; mas o que é da ordem da oficialidade trabalha para que a substituição ocorra de fato e de direito. Por ora, o retorno de “Garganta do Diabo” soa como uma forma de resistência daqueles que não fazem parte do grupo social que teria solicitado a mudança do nome; repetir, nesse caso é resistir.
O processo de nomeação/renomeação até se inscreve no espaço da memória, como mais uma forma de nomear, mas ainda não foi absorvida pelo social, não constitui o espaço da estabilidade discursiva, ou podemos dizer que ainda não foi incorporada à rede parafrástica e naturalizada como tal. Observamos que não se deu, de modo efetivo, o processo de naturalização dos dizeres e dos sentidos, que é o que faz de um nome uma designação, já que não há uma relação direta entre as palavras e as coisas. Oficialmente, o nome muda, mas, por enquanto, é isso... isso é pouco quando se trata de processos de produção de sentidos (PÊCHEUX, 1999: 50). O que está em jogo, neste caso, é “a passagem do visível para o nomeado” (ibid.: 51). Ou ainda, podemos dizer que se trata do